sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Quando nascem as palavras

neste destino de compor silêncios
vou desenhando palavra por palavra
o teu regresso
.
um dia chegarás... um dia ...
talvez surjas de um soneto de camões
ou de uma canção de espanca ou de neruda
.
que importância tem isso, amor
se sei do teu corpo como se existisses
se continuo a incendiar de flores
os caminhos que nunca percorremos
.
mesmo quando o céu despe o seu metal azul
para dar lugar à noite recatada
é o teu nome que leio na ursa maior
tão geometricamente sem sentido
que as nuvens se afastam silenciosas
e macias como os teus cabelos de veludo
.
não, amor, nem sequer iludo os dias
se te imagino é para te ter mais verdadeira
tão impossivelmente real como este poema
que começa no desejo de te eternizar em estátua
.
eu só amo o que não tenho, amor
ajuda-me a lembrar-te como eras então
quando ainda não existias
.
é tão triste aprender que um poema acaba
quando nascem as palavras
.
Mário Jorge Meireles Moura Teixeira (mensão honrosa em poesia lírica nos XV Jogos Florais-1972-, XI Nacionais, VI Luso-Brasileiros, organizados pelo Grupo Desportivo da CUF - Barreiro - Portugal)

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