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Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...
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Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
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A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
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Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
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José Régio
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José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901, aí falecendo em 22 de Dezembro de 1969.
Como escritor, José Régio, dedicou-se ao ensaio, à poesia, ao texto dramático e à prosa.
José Régio é considerado um dos grandes vultos da literatura portuguesa, e recebeu, em 1966, o Prémio Diário de Notícias e, em 1970, o Prémio Nacional da Poesia.
Um dos seus poemas mais conhecidos é o célebre "Cântico Negro": "(...) Não sei por onde vou,/Não sei para onde vou,/- Sei que não vou por aí!"
As suas casas em Vila do Conde e em Portalegre foram transformadas em casas-museu.
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