quarta-feira, 21 de abril de 2010

João Maria Ferreira


O meu relógio

No meu relógio, que supunha amigo
em vão contar as horas boas tento;
porém ele infiel, meu inimigo,
as horas más me dá com fero intento.

Contá-las para quê se tantas são
que o conto lhe perdi há tempo infindo
desde que este meu triste coração
era menino e moço, alegre e lindo.

Nesse passado de ouro, encantador,
meu relógio era então me bom amigo,
horas boas me dava: horas de amor,
horas de paz e sonho, que bem-digo.

Tudo passou, porém, nada ficou
senão doce lembrança do passado,
que, triste, a recordar na vida vou
num sonho pungitivo, magoado.

E agora raramente conto alguma
hora boa que dês, relógio amigo,
e esta é raio de sol por entre a bruma,
momento bom em que sonhar consigo.

João Maria Ferreira- Monte Estoril - 1921
Do livro CREPÚSCULOS.
João Maria Ferreira escreveu, entre outras obras, Jesus de Nazaré, Excelsa, Marquês de Pombal, Trovas para o Povo, Tristezas, Hino à Primavera, Oásis, Horasde Silêncio e Crepúsculos.
O livro CREPÚSCULOS foi editado por J. Rodrigues & C.ª - Editores, em 1928, com o preço de capa de 6$00 (3 cêntimos na moeda actual).




1 comentário:

Ursula disse...

João Maria...

gracias por visitar mis letras y dejar tu huella... acá estoy amigo... disfrutando de tu cálido lugar y tus poemas llenos de sentimientos y emociones!!! que tengas un bello fin de semana.

hermosos días!!!

beso!!!

 
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