SAMBA-CANÇÃO
Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhada na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica.
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...
Ana C
Ana C era como se assinava Ana Cristina Cesar (1952-1983). Poeta, professora universitária, tradutora e jornalista, é considerada das vozes mais significativas
do que se chamou Poesia Marginal, surgida no Brasil na década de 1970,
em plena ditadura militar.
A Poesia Marginal não pode ser considerada um movimento. Eram poetas jovens e rebeldes que, sem acesso às grandes editoras, publicavam seus livros, quase artesanais, por conta própria, e os vendiam em portas de universidades, teatros e bares. Promoviam recitais em praças públicas, geralmente interrompidos pela polícia política.
Herdeiros dos modernistas de 1922, mais especificamente do irreverente Oswald de Andrade, e também dos concretistas de 1960, esses poetas abandonaram a chamada língua culta, optando por uma linguagem coloquial, empregando em seus poemas gírias e palavrões. Além de Ana C., fizeram parte também desta geração poetas como Torquato Neto, Paulo Leminski e Isabel Câmara, entre outros.
Ana C. suicidou-se aos 31 anos, atirando-se do 7° andar do apartamentos de seus pais, no Rio de Janeiro. Ora dócil, ora cínica e debochada, sua obra tem sido objecto de estudos e teses no Brasil. Publicou, entre outros, Luvas de Pelica, A Teus Pé e Inéditos e Dispersos (obra póstuma, organizada pelo poeta Armando Freitas Filho). Também traduziu poetas como Sylvia Plath e Emily Dickinson.
Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhada na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica.
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...
Ana C
Ana C era como se assinava Ana Cristina Cesar (1952-1983). Poeta, professora universitária, tradutora e jornalista, é considerada das vozes mais significativas
do que se chamou Poesia Marginal, surgida no Brasil na década de 1970,
em plena ditadura militar.
A Poesia Marginal não pode ser considerada um movimento. Eram poetas jovens e rebeldes que, sem acesso às grandes editoras, publicavam seus livros, quase artesanais, por conta própria, e os vendiam em portas de universidades, teatros e bares. Promoviam recitais em praças públicas, geralmente interrompidos pela polícia política.
Herdeiros dos modernistas de 1922, mais especificamente do irreverente Oswald de Andrade, e também dos concretistas de 1960, esses poetas abandonaram a chamada língua culta, optando por uma linguagem coloquial, empregando em seus poemas gírias e palavrões. Além de Ana C., fizeram parte também desta geração poetas como Torquato Neto, Paulo Leminski e Isabel Câmara, entre outros.
Ana C. suicidou-se aos 31 anos, atirando-se do 7° andar do apartamentos de seus pais, no Rio de Janeiro. Ora dócil, ora cínica e debochada, sua obra tem sido objecto de estudos e teses no Brasil. Publicou, entre outros, Luvas de Pelica, A Teus Pé e Inéditos e Dispersos (obra póstuma, organizada pelo poeta Armando Freitas Filho). Também traduziu poetas como Sylvia Plath e Emily Dickinson.
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Recebido, por e-mail, do meu colega brasileiro, Júlio Saraiva, para quem vai aquele abraço.
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