quinta-feira, 4 de março de 2010

António Aleixo


De ninguém posso fazer
A sorte – porque ninguém
Poderá dar ou vender
Uma coisa que não tem.

Sou um cauteleiro em forte,
P’ra vender jogo me empenho,
Se um dia vender a sorte,
Vendo aquilo que não tenho.

Na morte há tanta alegria,
Tanto desgosto e prazer,
Como os que a gente sentia
Anos antes de nascer.

Há dia pus-me na frente
Dum espelho onde me via…
E ri, ri… ri francamente,
Porque não me conhecia.

Fui no meu rosto encontrar,
Por sobre o sulco dos anos,
A máscara que os desenganos
Me forçaram a usar.

Quem me dera que voltasses,
Infância, que já lá vais…
Para que, comigo, escutasses
Os conselhos de meus pais.

Era ainda muito novo,
Já tinha grande vontade
De ser um poeta do povo
- Ainda com pouca idade.

António Aleixo


António Aleixo, poeta popular que ficou conhecido para todo o sempre, nasceu em Vila Real de Santo António em 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949.

Ficaram célebres as suas quadras, de que reproduzo algumas extraídas da obra "Este livro que vos deixo", editado pela NOTÍCIAS editorial.

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