MONTEMOR
Foi há trinta e oito séculos!...
tinha pouco mais de um terço
da idade que hoje tem
o nosso globo! – Antiquíssima
e nobre, mais que ninguém,
é Montemor, a Medobriga
daquele tempo incristão!
Era um monte agreste e inculto,
que a natureza engastou,
para um altar de seu culto,
no que mais belo encontrou!
E, mais tarde, povo adulto,
olhando, ufano, a planície
do Mondego, aos outros disse:
“Olhai p’ra esta lindeza!
Prestai culto à Naureza!
-Qualquer de vós é menor!...”
Ficou Verride calado…
Reveles teme o soldado…
e só Maiorca, assomado,
contestou Monte-maior.
Caminha, caminha, avança,
não há de parar jamais,
o Tempo, desde criança
até que por fim alcança
da Eternidade os umbrais!
Entrará por ali dentro;
e, baqueando no centro
das gerações que ele viu;
todas… tudo confundido,
inentidado, volvido
ao novo caos de então;
nem vestígio, lenda, história
do que foi; do amor, da glória,
neste mundo-imperfeição!
E caminhou, foi avante,
na direcção do Infinito,
por muitos séculos adiante,
o que destrói sem delito.
Veio de Roma, orgulhoso,
Manlio erguer o castro idoso
da abatida povoação;
que, nas campinas do Tibre,
ah!, nunca teve ar tão livre,
tão puro céu, flóreo chão!
Ai! Par’cia que o mofino
q’ria evitar o destino,
que na Tarpeia o lançou,
quando aqui – de longes terras,
através de plainos, serras –
Manliana edificou!
Anos dois mil e setecentos,
até à infâmia, à traição
do vilíssimo Julião,
experimentou os eventos
da conquista e redenção
a própria filha de Brigo,
que depois Manlio adoptou,
e que em Montemor ficou.
Porém mais tarde… oh!, mais tarde
cento e trinta e quatro anos,
segundo a conta melhor…
(todo o mundo sabe a história,
Que nos vem por tradição,
E que encerra tanta glória!)
foi proposto em Montemor,
pelo seu conquistador,
o famoso Abade João!
E depois de três mil anos
de alternativos senhores,
baldões vários, esplendores,
- apogeu e perigeu:
renasceu, filha do conde [Conde D. Henrique]
que à moirama a conquistou,
a Montemor de hoje, aonde
foi a cidade pagã;
- foi de Brigo a primitiva
Fada, ninfa, aérea diva,
Encantadora, louça!
Oh! Salve, irmã de Coimbra
e da Figueira – a mais nova!
Cada uma de vós timbra
em nos pôr o afecto à prova!
Cada uma nos envia,
nas torrentes de poesia
com que transborda o Mondego,
tão grande encanto, magia
tão poderosa, que eu…, cego,
quase que me atiro ao pego,
neste mar de sedução!...
Porém… não! Mil vezes não!
Tenho n’alma um claro espelho:
foi-me berço este concelho…
Salvé, Montemor-o-Velho!
- É só teu meu coração
José de Ornelas (Montemor-o-Velho – 1892)
José de Ornelas, de seu nome completo José de Ornelas a Fonseca Nápoles, era natural da Abrunheira, tendo vivido muitos anos na Figueira da Foz.
Era licenciado em Direito
Escreveu e leu uma poesia, com o título “Aos figueirenses” na inauguração do Teatro-Circo Saraiva de Carvalho (hoje Casino da Figueira), em 3 de Setembro de 1884.
Foi há trinta e oito séculos!...
tinha pouco mais de um terço
da idade que hoje tem
o nosso globo! – Antiquíssima
e nobre, mais que ninguém,
é Montemor, a Medobriga
daquele tempo incristão!
Era um monte agreste e inculto,
que a natureza engastou,
para um altar de seu culto,
no que mais belo encontrou!
E, mais tarde, povo adulto,
olhando, ufano, a planície
do Mondego, aos outros disse:
“Olhai p’ra esta lindeza!
Prestai culto à Naureza!
-Qualquer de vós é menor!...”
Ficou Verride calado…
Reveles teme o soldado…
e só Maiorca, assomado,
contestou Monte-maior.
Caminha, caminha, avança,
não há de parar jamais,
o Tempo, desde criança
até que por fim alcança
da Eternidade os umbrais!
Entrará por ali dentro;
e, baqueando no centro
das gerações que ele viu;
todas… tudo confundido,
inentidado, volvido
ao novo caos de então;
nem vestígio, lenda, história
do que foi; do amor, da glória,
neste mundo-imperfeição!
E caminhou, foi avante,
na direcção do Infinito,
por muitos séculos adiante,
o que destrói sem delito.
Veio de Roma, orgulhoso,
Manlio erguer o castro idoso
da abatida povoação;
que, nas campinas do Tibre,
ah!, nunca teve ar tão livre,
tão puro céu, flóreo chão!
Ai! Par’cia que o mofino
q’ria evitar o destino,
que na Tarpeia o lançou,
quando aqui – de longes terras,
através de plainos, serras –
Manliana edificou!
Anos dois mil e setecentos,
até à infâmia, à traição
do vilíssimo Julião,
experimentou os eventos
da conquista e redenção
a própria filha de Brigo,
que depois Manlio adoptou,
e que em Montemor ficou.
Porém mais tarde… oh!, mais tarde
cento e trinta e quatro anos,
segundo a conta melhor…
(todo o mundo sabe a história,
Que nos vem por tradição,
E que encerra tanta glória!)
foi proposto em Montemor,
pelo seu conquistador,
o famoso Abade João!
E depois de três mil anos
de alternativos senhores,
baldões vários, esplendores,
- apogeu e perigeu:
renasceu, filha do conde [Conde D. Henrique]
que à moirama a conquistou,
a Montemor de hoje, aonde
foi a cidade pagã;
- foi de Brigo a primitiva
Fada, ninfa, aérea diva,
Encantadora, louça!
Oh! Salve, irmã de Coimbra
e da Figueira – a mais nova!
Cada uma de vós timbra
em nos pôr o afecto à prova!
Cada uma nos envia,
nas torrentes de poesia
com que transborda o Mondego,
tão grande encanto, magia
tão poderosa, que eu…, cego,
quase que me atiro ao pego,
neste mar de sedução!...
Porém… não! Mil vezes não!
Tenho n’alma um claro espelho:
foi-me berço este concelho…
Salvé, Montemor-o-Velho!
- É só teu meu coração
José de Ornelas (Montemor-o-Velho – 1892)
José de Ornelas, de seu nome completo José de Ornelas a Fonseca Nápoles, era natural da Abrunheira, tendo vivido muitos anos na Figueira da Foz.
Era licenciado em Direito
Escreveu e leu uma poesia, com o título “Aos figueirenses” na inauguração do Teatro-Circo Saraiva de Carvalho (hoje Casino da Figueira), em 3 de Setembro de 1884.
2 comentários:
Caro Sr.Anibal.Voltei aqui esta madrugada para ler de novo o poema de José Ornelas.
Um abraço e ... volte sempre. A casa é sua !!!
O meu livro "EMBARQUE EM SOBRESSALTO", com capa e ilustrações de Mário Silva e prefácio de António Augusto Menano, deve ser lançado na Primavera.
Aníbal
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