quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Quadrilha
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João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
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Carlos Drummond de Andrade
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Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (Minas Gerais), em 31 de Outubro de 1902, falecendo no Rio de Janeiro a 17 de Agosto de 1987.
Licenciado em Farmácia, fundou, com Emílio Moura e outros companheiros, "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil.
Durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até ao seu falecimento, 12 dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crónicas.
É uma referência no Brasil e no meio poético mundial.

domingo, 20 de setembro de 2009

Aníbal José de Matos

Desejo

Adensa-se a bruma nos meus olhos
Mas ainda te vejo nos meus sonhos.
Abraço-te na penumbra do espírito
Toldado pela mágoa da saudade.
Corro ao desafio com as águas
Em que se afundam as ideias
Das brandas madrugadas,
Em que as pegadas do desejo
Se fundiram nas areias movediças.
Quero ver-te mas só o sonho me conduz.
Quero tocar-te,
Mas as minhas mãos esfumam-se
Entre a neblina que te esconde.

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Do livro em preparação "TANTOS ANOS"

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Miguel Torga

M ã e

Mãe:


Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
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Miguel Torga
 
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