segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


Manhã de Paz


Curvam-se as almas
E o espírito rola sobre nós.
O Pastor torna mais lento
O bater dos corações
E a oração leva-nos ao alto.

Corre o tempo ternamente
Sem que nos apresse a saída.
O relógio não tem horas
Porque o templo nos aconchega.

Neste recolhimento
Invade-nos um manto imenso de conforto.

É um domingo diferente.
Percorre-nos uma acalmia
Como se a pomba da paz voasse sobre nós,
Abrindo as suas asas
Para nos envolver num amplexo longo e terno.

É que Deus está presente.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal) Fevereiro de 2012



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje

Aquela Cruz

Aquela cruz
além no alto do monte
mesmo junto àquela fonte...

Aquela cruz lá em cima
batida por doce orvalho
é bem um símbolo erguido
ao exaustivo trabalho
daqueles que neste mundo
a vida vão conquistando
mercê de esforço profundo,
... a sua cruz transportando!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) do livro da sua autoria ESPERANÇAS.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas


E Quarta-Feira de Cinzas
é já hoje


O corso desfila entre festins
E o sonho alimenta a euforia,
Um riso fugaz dorme ao relento
No rebato das cinzas duma quarta-feira.

Vejo sombras a bailar numa dança insólita
E máscaras a encobrir iniquidades,
Esgares perpassam entre serpentinas
E rodopiam em golpes de magia.

E o Rei de um dia ri, ri e recolhe, felizão,
Vassalagens e adornos à mistura.
A fantasia ornamenta a sua corte
E o imaginário põe grilhetas no real.

E quarta-feira de cinza é já hoje...

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) - do livro de sua autoria, CONFLITOS (1992)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A outra face do Carnaval


CARNAVAL
(A OUTRA MÁSCARA)


Desliza a mascarada impenitente
Num grotesco cortejo de figuras.
Ecoam gargalhadas de sarcasmo
Ao longo de infindável avenida.

Rasgam-se bocas em riso desmedido
E voam serpentinas de utopia.
E só da ingenuidade das crianças
Sopra forte uma alegria genuína.

E enquanto a fantasia permanece
Nos três dias de estranho carnaval,
Escondem-se verdades dolorosas
Com máscaras de morte a balançar
Em rostos que perecem pela fome!

Na outra margem
O desespero imola-se pelo fogo.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal), do livro de sua autoria, CONFLITOS.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


O Ruído do Silêncio

Fechem a porta devagar,
Não perturbem o ruido do silêncio
Que me conforta e embala.
Descalcem-se, caminhem sobre as nuvens
Deslizando em espaços tranquilos
Sem sombras de inquietude.

Apaguem as luzes
Que me ferem a retina
E impedem que adormeça.
Sozinho, contemplo as vertentes
De montes imaginários.
E sigo por aí sem atropelos.

E à noite, a companhia das estrelas
Ilumina os meus passos
E oferece-me a doce melodia dum percurso
Rumo a sonhos por sonhar.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal) Fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


Zimbórios da Esperança

Zimbórios da esperança,
torreões onde vagueia o meu espírito,
ameias e merlões desmantelados
que sugerem a escalada!

Zimbórios da esperança,
muros onde as mãos do desespero
se rasgam em esgares de vã renúncia
imaginando ninhos de vampiros!

.................

Retrato a corpo inteiro desta vida,
Zimbórios de esperança
que sonhei um dia conquistar!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) - 1979

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

55 MIL

55 MIL !!!

"Poesia", um blogue criado por mim em 18 de novembro de 2008, completa hoje a bonita soma de 55 mil visitas.
A todos, apreciadores desta variante da literatura, o meu muito obrigado.
Aníbal José de Matos

Um poema para hoje


A Uma Mulher

Joelhos em terra, aquele vulto escuro
Todas as tardes, àquela mesma hora,
Chora junto à campa aquele amor tão puro
Que no seu peito eternamente mora.

Relembra tantos anos de ventura
Sonhada para uma eternidade
Que mesmo além da morte 'inda perdura
A lembrança de tanta felicidade.

São lágrimas sentidas, que choradas
Pela perda de horas já passadas
Num mundo a dois tão cedo interrompido,

Vão queimando aqueles olhos de mulher
Que junto a si um dia viu morrer
A única razão de ter vivido!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) - 1978

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


Mais além

O sofrimento faz parte integrante duma vida,
A alegria é um acidente na caminhada
Em direção a um horizonte perdido.
As lágrimas são o escape
De quase permanente chamamento
Aos degraus das intermitências.

A vida é um bem ou mal que se adquire
Sem que contribuamos para tal,
Mas exige que cumpramos
As determinantes de linhas traçadas.
Viver é julgarmos que existimos
Como se nada houvesse para depois.

Caminhar é seguir passos conseguidos
De quem vê muito mais além.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) Maio 2010

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje

Torrentes de alma

Torrentes de alma desabam sobre alguém
Que não sustém tristezas nem angústias.
São lágrimas de sangue que percorrem
Trilhos sofridos, magoados.
E o sol esconde-se fingindo ignorar
Que a sombra deixou de projetar-se.

Descalços, há pés que correm sobre o frio
De madrugadas tingidas de cinzento,
Enquanto lágrimas completam o cenário
De vidas que não chegam a despontar.
E o sol teima em não surgir
Para estancar um choro convulsivo.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal)
Fevereiro de 2012.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje

Dúvida

Montanhas de dispersão,
Percursos de exclusão,
Caminhos de atrocidade,
Planaltos de loucura,
Momentos de esquecimento
Mas por demais prolongados
Sem rota nem soluções
Numa vida de incertezas!

Rumos em trilhos sem rumos,
Destroços desencontrados,
Vidas atormentadas
Sem razões e sem limites.
Que futuro, que tormentas,
Que encontros descontrolados!
Que esperas para quem procura
Horizontes cor de rosa?

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal), Fevereiro de 2012

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje

Quadro de Auguste Macke (pintor alemão - 1887 - 1914)

Fidelidade

O abismo atrai-me,
As emoções adormecem-me,
O teu sorriso inibe-me,
Os teus lábios subornam-me.

Sei que o teu coração tem um espaço
Que prevarico a preencher,
Porque te olho
E quedo-me no teu corpo.

Vejo, quando me afasto,
Que poderia ser-te mais fiel.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal) – Do seu livro EMBARQUE EM SOBRESSALTO

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


CONNOSCO, A SOLIDÃO

Romper as barreiras do Além,
Sobrepondo-nos às sombras do poente,
Gritar na imensidão do Universo
Sem sequer saber se nos escutam.

Abraçar o impossível e chorar
Até ao infinito desta mágoa
Que nos persegue, nos dói e nos fustiga
E agora viaja a nosso lado.

O sol lançou-se há pouco no ocaso
Legando-nos um frio desgastante.

Mais vulneráveis à dor então ficámos.

Oh solidão fiel que não desarmas!

Aníbal José de Matos - Figueira da Foz - Portugal (1992)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


LIBERDADE

Ambicionava usufruir da liberdade dos cisnes
que volteiam nos lagos do jardim,
a liberdade dum plátano verdejante
osculando as suas águas ternamente,
a própria liberdade das crianças
que aos cisnes oferecem o pão do seu amor,
a liberdade da água que goteja
nas gargantas das pombas sequiosas...

Ser livre como as almas sonhadoras
liberto do fardo dos costumes,
ser livre como as aves que me cercam
felizes pela entrega deste milho
que lhes dou em renúncia do meu ser...

Eu queria serrar os elos das correntes
que me arrastam na prisão da minha era,
aspirar profunda e livremente
a liberdade daqueles que são livres!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal) - 1982 (Escrito junto ao antigo lago do Jardim Municipal da Figueira da Foz)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


DEUS SABE OS SONHOS DISPERSOS
QUE O VENTO LEVA NA MÃO - mote
(José Régio)

Histórias, lendas, encantos,
Murmúrios de gente triste,
E tu perdido entre tantos
Sem pensares que o mundo existe!

Tantas saudades nos olhos,
Rosas perdidas nas mãos,
Sonhos fundidos aos molhos
Golpes sofridos de irmãos!

Poeta de tristes versos
Que és da minha geração,
DEUS SABE OS SONHOS DISPERSOS
QUE O VENTO LEVA NA MÃO...

Sonha poeta, percorre
Os duros cantos da vida,
Repara que gente morre
À sombra de gente erguida.

Cria contigo outro alento,
Eleva-o em altos sons,
Transforma-o a teu contento,
Aproveita excelsos dons
Que por demais controversos
Exala teu coração!

DEUS SABE OS SONHOS DISPERSOS
QUE O VENTO LEVA NA MÃO.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal), do livro ESPERANÇAS, editado pela Câmara Municipal da Figueira da Foz.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


SILÊNCIO E... NADA

Silêncio e espaço!
Medos e angústias,
Constante o adormecer das consciências...
Verdades e tormentos
E ainda o silêncio das noites longas!

Silêncio e nada!
Regressos impossíveis...
Irremediáveis os zeros do destino.
Vazios e tremores,
E ainda o insondável mundo do silêncio!

Silêncio e dor!
Adormecem-me os sentidos,
E os olhos refletem as agruras
Que um sorriso nega a todo o transe.

E ainda o intransponível mundo do silêncio!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje



Ainda bem que vieste

Chegaste em fim de tarde de acalmia
Quando mal despontava a primavera,
e já o amor em meu peito era utopia,
Vergado sob o carrego da espera.

Surgiste como barco no horizonte
A quem se acena com lenços de esperança,
Serias o brotar de nova fonte,
Aliciante brinquedo de criança.

Mas se vieste apenas de passagem,
Alimentar minh'alma de coragem,
P'ra que de novo vivesse sonho lindo,

Quero dizer-te, Amor, sem ironia,
Mesmo sabendo perder-te algum dia,
Foi bom que mesmo assim tivesses vindo!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Um poema para hoje


CONFLITO

Minh'alma quebrou-se ao congelar
A fragilidade latente.
Volatizou-se a visão
Que acalentava meus dias,
Caiu a terra nos restos
Duma imagem permanente.

Findaram-se no insondável
De teias invulneráveis
Os passos firmes e lestos
De quem tudo pressentia.
Finou-se a peregrinação
De quem implorava amor.

Resta a fé num próximo e pleno encontro,
Sobra a confiança no eterno,
O passo decisivo no desconhecido,
A luta entre o sonho, o pesadelo e a verdade,
P'ra que sejam mais firmes os meus passos
Numa terra confusa e delirante.

Persiste o conflito entre o estar e o partir,
Entre o renunciar e o prosseguir,
Na perspetiva de que a felicidade,
Por essa fé,
Há-de voltar a acontecer.

E voltaremos a encontra-nos.

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - 1991)
 
contador online gratis