sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Um poema para hoje



Um noturno alvorecer

O amanhecer é a noite dos meus sonhos,

Porque a escuridão transporta pesadelos.

E a alvorada traz consigo as asas dos que acreditam

Que o dia é de esperança

E o verde é cor predominante.

 

Quero deitar-me entre almofadas de ternura,

E abraços de conforto com sentido.

A noite é longa mas os dias emprestam-me horizontes.

A lua acorda os meus fantasmas

Mas o sol afasta as minhas sombras.

 

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz – Portugal)

(Poema selecionado para a VII Antologia de Poetas Lusófonos)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Dia Internacional da Criança




A uma Criança

Tu que és Vida!
Que brincas e que ris
E a tudo que é nada dizes nada!

Tu que saltas e que choras
E ainda ris!

Que lesto corres e saltitas,
Que colhes borboletas e as soltas
P'ra que vivam!


Que pulas de flor para flor
Em busca das abelhas que  são vida!

Que és alheio à dor e à incerteza,

... Vive!

Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal), em ESPERANÇAS - 1982

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Um poema para hoje


E quarta-feira de cinzas é já hoje...


O corso desfila entre festins
E o sonho alimenta a euforia.
Um riso fugaz dorme ao relento
No rebato das cinzas duma quarta-feira.

Vejo sombras a bailar numa dança insólita
E máscaras a encobrir iniquidades.
Esgares perpassam entre serpentinas
E rodopiam em golpes de magia.

E o Rei de um dia ri, ri e recolhe, felizão,
Vassalagens e adornos à mistura.
A fantasia ornamenta a sua corte
E o imaginário põe grilhetas no real.

E quarta-feira de cinzas é já hoje...


Aníbal José de Matos (Figueira da Foz - Portugal), in CONFLITOS (1992)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Um poema para hoje


 
Ifan tão an!
(Poema de memórias)
 
Esmagado pelo ruído do silêncio,
Por imensos decibéis de solidão,
Atravesso um deserto de contrastes
Em que a vida se desbobina como um filme
Em rodagem permanente e insensível,
E constantes sons de claquete,
À espera do “corta” diretivo.
 
E a infância surge no ecrã
Envolta no sorriso da inocência.
 
Mi Choá, mi Choá,
Um cijá pró pai fumá.
 
E o percurso surge sem agruras,
Com beijos e abraços à mistura
De gentes que enchem doce lar
Em que o amor é uma constante
Trazida por mil braços de carinho.
 
Como ele está crescido; faz-nos velhos!
 
Corre, corre, vem depressa, olha o comboio.
Pouca-terra, pouca terra.
E o silvo sibilino
Soa no imenso vale num esfusiante grito.
 
Mas como aos meus ouvidos é sublime o seu trinado,
Melodia na alma da criança.
E aceno p’ra mil rostos com destino,
Num mundo a percorrer veloz
Carris e sulipas de esperança
Envolto em cores de arco-íris,
Sobre um Dinha calmo e ternurento.
 
Pouca-terra, pouca-terra!!!
 
E à nossa porta uma carroça ronceira
Desfila no caminho sobre pedras
Que se soltam à passagem de rodas ferrugentas.
A voz do Adelino clama entre pinhais,
E eu embarco encantado rua abaixo
Passando pelo Torno da saudade.
Eixe cabano.
Lá vai ele numa labuta constante e dolorosa.
 
Mas comigo vai o sorriso que abarca
Um incontável mundo de horizontes.
 
A paz regressa ao vale.
 
E ao longe ouço hinos de louvor
Oriundos de uma casa de oração.
“Mestre, o mar se revolta,
As ondas nos dão pavor.
Sossegai, sossegai”
 
Vidas com percalços e angústias,
Saudades, perdas e encontros,
Veredas transpostas com agruras
Mas muitos salpicos de doçura.
 
E há sempre na vida uma Maria,
Que nasce das teclas dum órgão
Que envolve minha alma.
 
A cidade tem momentos de cor fantasiosa,
E uma Avó que estraga com mimos e encantos.
 
Vó, qui ifan tão an!
Vó tem mê?
Meni não tem mê não.
 
E o gigante passeia na calçada
Entre aplausos e faces risonhas de surpresa.
 
Qui ifan tão an!!!
 
É um desfilar na mente,
É um perpassar constante de figuras
Ternas e saudosas.
É a um tempo um misto de lágrimas e sorrisos
Um relembrar de um tempo em que os amplexos
Queimavam por amor.
 
Qui ifan tão an!!!
 
…………
 
Voaram esses tempos e os ventos.
 
E entre o ensurdecedor ruído do silêncio,
A solidão abre a porta de mansinho
E vem afagar-me o rosto,
Beijar as minhas mãos,
E dizer-me num sussurro:
 
Não tenhas medo.
Tu não estás só
Porque vou ficar contigo.
 
………
 
Eu sei que tenho Deus a controlar a minha solidão
Neste ensurdecedor ruído do silêncio.
 
Aníbal José de Matos
(Poema escrito e lido pelo autor numa tarde cultural, na Igreja Evangélica Figueirense, em 6 de dezembro de 2014)
 
 
 
 
 
 
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