segunda-feira, 26 de julho de 2010

Zulmira Rito Cardoso


OSMOSE !?...

Não penses meu amigo
que foges ao sentir que é teu,
quando “construindo” palavras
em tons cinzentos ou de mil cores!

… Não foges meu amigo,
elas são traçadas
pela tua mão que “cria”
através da osmose de todo o teu ser.
És tu.
A tua dimensão espiritual,
o teu passado,
que só alma revela.
O teu corpo sofrido, belo, porque humano,
anuncia para além do infinito
habitado em ti!

Escrever é catarse
do Divino que começa
e, acaba para além do teu eu,
e, em ti alcança
o sentir profundo
do universo que é teu!

Em cada palavra
és tu que lá estás,
mesmo fugindo…
Ao som clamoroso ou tempestivo.
Mesmo que tentes ser o “fingidor”
os sinos da tua aldeia
tocam sem fim e te denunciam…
E, dizem tudo aquilo
que queres dizer e não dizes
tudo o que nelas existem:
Envoltas em neblina
ou em claro amanhecer.
No fingir ou fugir
És sempre tu!...

P.S. Quando Fernando Pessoa dizia ser o poeta um “fingidor”, creio que ele queria “fugir” dele próprio. E, ele conseguiu isso nos seus diversos heterónimos. Mas, não deixou de ser ele no todo – só que efabulando.
Ouvindo, verdadeiramente, os sinos da sua aldeia, embora tenha vivido sempre, em grandes cidades. Lisboa, onde nasceu, não era mais do que uma aldeia no seu sentir de poeta.
Os sinos eram os seus… nos seus muitos e multifacetados olhares! Todos os poetas, na minha opinião, são isso mesmo… fingidores com todo o que têm dentro de si, e, ao qual podem fingir, mas, não fugir!

Poema e comentário de ZULMIRA RITO CARDOSO (membro da Igreja Evangélica Presbiteriana Figueirense) – Julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Embarque em Sobressalto


"Foi um prazer ler Embarque em Sobressalto de
Aníbal José de Matos.
Os poemas transportam-nos
para um imaginário belo e sedutor.
Vou estar
presente no dia 30 de Julho para cumprimentar o
Poeta e dar-lhe os meus parabéns!
"A vida é o
momento por que passas."
Filipa Duarte"
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Nota: Filipa Duarte é uma distinta poetisa de Tondela, cidade onde, no próximo dia 30 de julho, pelas 19 horas, na galeria de exposições do Mercado Velho, irá decorrer a apresentação do meu mais recente livro de poesia, EMBARQUE EM SOBRESSALTO.
A obra encontra-se à venda na FEIRA DO LIVRO DA FIGUEIRA DA FOZ, no stande de EDIÇÕES MUNICIPAIS.
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FILIPA DUARTE é o nome poético de Maria de Lurdes Marques de Loureiro Silva.
Natural do Concelho de Tondela, onde reside desde 1975, é Engenheira Agrónoma de profissão, tendo ainda o Mestrado em Ciências Agrárias. Desempenha funções na Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, em Viseu.
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Escreve poesia desde os 16 anos, mas só em 1976 publica pela primeira vez poemas seus.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Aníbal José de Matos


Os rios correm entre margens

Não faças contas à vida
Que a vida não tem contas p’ra contar.
Não lances o olhar sobre o amanhã
Que o hoje ainda não chegou ao fim.
As estrelas esperam pela noite
E para ti ainda não é tarde.
O dia começou há pouco
E tu ainda não tens história
Que possa ser coberta com as rendas
De quem espera que aprofundes
Os rios que correm entre margens.

Amanhã não é um novo dia;
A vida é o momento por que passas.


Aníbal José de Matos, em EMBARQUE EM SOBRESSALTO.

Este poema foi declamado por Adélio Amaro, na apresentação do livro em SANTA COMBA DÃO.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aníbal José de Matos


Ainda bem que vieste

Chegaste em fim de tarde acalmia
Quando mal despontava a Primavera,
E já o amor em meu peito era utopia,
Vergado sob o carrego da espera.

Surgiste como barco no horizonte
A quem se acena com lenços de esperança,
Serias o brotar de nova fonte,
Aliciante brinquedo de criança.

Mas se vieste apenas de passagem,
Alimentar minh’alma de coragem,
P’ra que de novo vivesse sonho lindo,

Quero dizer-te, Amor, sem ironia,
Mesmo sabendo perder-te algum dia,
Foi bom que mesmo assim tivesses vindo!

Aníbal José de Matos em “CONFLITOS”

segunda-feira, 5 de julho de 2010


Esta profetisa [Sibila de Cumas] pediu a Apolo tantos anos de vida quantos os grãos de areia contidos numa mão de areia. Mas esqueceu-se de pedir a juventude. Ficou por isso tão velha, que teve de ser encerrada no templo de Apolo. Viveu nove vidas de 110 anos cada.

Ó Sibila

Ó insana profetiza que não soubeste
Pedir à eternidade a juventude
E na ânsia esquartejante não pediste
O frescor e o rubor em plenitude.

Ó insana porque quiseste
O tamanho da vida em grãos de areia
E esqueceste que a grandeza de uma vida
Se erege como teces essa teia!

Ó imprudente devias saber
Não querer essa cobiça esgueirada
Para quê viver tão longamente
Em perpétua velhice enclausurada!

Poesia enviada por Maria Almeida

domingo, 4 de julho de 2010


Rosas Vermelhas

Por entre as minhas mãos perpassam rosas
Flores colhidas de insólito jardim
Ramos trazidas por outras carinhosas
De alguém, sei lá se mesmo para mim!

E recordo tantas rosas que já vi,
Tantas flores de caminhos que trilhei,
Frescos jardins que na vida percorri
Qual deles o mais belo que pisei!

Mas as rosas que vejo entre meus dedos,
Pétalas mil pejadas de segredos
Trocados nos jardins donde vieram,

São das flores mais lindas que encontrei,
Rosas vermelhas dum sonho que sonhei!
Deus abençoe as mãos que mas trouxeram.

Aníbal José de Matos em “Esperanças”-1982)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

VITORINO NEMÉSIO


Campos do Mondego


Salgueirinhos dos campos do Mondego.
Mais tenros do que os gestos dos meus filhos,
Cá venho ver-vos. Álamos e milhos,
Eis a rima, a noz oca do “sossego”.

Tudo quanto floristes no pilriteiro
No pilrito te dou desta saudade;
Mas olha que, se um homem é verdade,
Pobre que seja, vale um rio inteiro.

Sujo das minhas águas arrastadas,
Um momento me espelho dos teus dias
Pelas redondas águas sossegadas,

Como aquelas laranjas de oiro ardente
Que o comboio passando torna frias
Neste meu vago coração corrente.

Vitorino Nemésio

Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva , de seu nome completo, nasceu na Praia da Vitória (Açores) em 19 de Dezembro de 1901, e faleceu em Lisboa a 20 de Fevereiro de 1978. Foi um poeta, escritor e intelectual de origem que se destacou como romancista. Entre outras obras, foi marcante o seu MAU TEMPO NO CANAL. Foi professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e o público conheceu-o também como autor do programa da RTP, de grande sucesso, SE BEM ME LEMBRO.
 
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