terça-feira, 28 de dezembro de 2010


Segue

Não guardes o que se perdeu no tempo
Nem chores pelos ribeiros
Que dividem o amor com os riachos.

Não te percas em labirintos
Que se confundem com o vento
Que sopra de todos os quadrantes.

Livra-te dos escolhos
Que te prendem com fios invisíveis
A terrenos inconformados.

Caminha por veredas verdejantes
Que te alimentem o espírito
E não te consumam a alma.

Aníbal José de Matos
(Figueira da Foz - Portugal)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NATAL - 2010

Filemon F. Martins


DESEJO DE NATAL

Se eu pudesse compor, eu comporia
um poema de paz e de ventura,
cujas palavras cheias de ternura
fossem do amor a eterna melodia.

Se eu soubesse cantar, eu cantaria
nesta Noite de Luz e de doçura,
e toda a Terra venturosa e pura
minha canção a Deus entoaria!

Pois nesta Noite de Natal, de glória,
um menino mudou a própria história
da Humanidade que não tinha Fé...

Que em cada coração aqui presente
possa nascer, feliz, eternamente,
O SINGULAR JESUS DE NAZARÉ!

Filemon F. Martins
Filemon Francisco Martins. Cursou Administração de Empresas, na FACES, em São Paulo (Brasil), contudo, por concurso público, trabalhou no Tribunal Regional Federal - 3ª Região, onde se aposentou. Escreve crónicas, artigos, poesias, ensaios e outros.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Filipa Duarte



O Amor…

Tem uma linguagem universal!
Basta um olhar, um gesto apenas
E escutar o coração…

Fala-se e as palavras parecem
Por vezes descabidas, sem nexo,
Mas são totalmente perceptíveis
Para quem ama…

Por exemplo, a palavra sótão
Não que dizer apenas uma divisão,
Pode significar uma história
Que tem em si um mar de espanto…

A palavra Sol não é só uma estrela,
É a beleza de uma alma única
Que tem um brilho que nos seduz…

O Amor é ardente e cego!
Como disse Luís de Camões
“É fogo que arde sem se ver…”

Sabe o que ele é realmente
Quem o vive em cada instante
E o alimenta indefinidamente…

O Amor…

O mais sublime sentimento,
Que traduz o que é Belo,
Puro e dá uma paz infinita!

Filipa Duarte, poetisa de Tondela.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Filipa Duarte

(Clicar para ampliar)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Arroja Júnior

Moçâmedes, atualmente designada Namibe,
em Angola,
onde nasceu Joaquim Pedro Arroja Júnior
.
Nêguinho Graxadô
Quem qué graxá...
vai nêguinho graxadô
da cô da graxa qui tem
sempre a gritá:
Quem qué graxá... á... á?
Vai alma pênada
subir calçada
decê venida
corrê rua fora
como flô vencida
n'auga caída
do riacho a soluçá:
quem qué graxá... á... á?
"- Siô dõtô vem só graxá
os sapatinho
fica mesmo a briá".
Mas siô dòtô
não qué graxá
sapatinho dele
E o nego coitado
não fica desanimado
diz: hê... hê... hê...
não faz male
fica poutro dia
e lá vai alma pênada
subir calçada
corrê rua fora
e hê... hâ... hê...
mostrando os dentes brancos
e os oitos a briá
e sempre a gritá
quem qué graxá... á... á?!
Arroja Júnior (Joaquim Pedro Arroja Júnior), poeta angolano.
Com 7 anos foi para o ex-Congo Português e, depois do curso liceal, veio para o continente, onde cursou engenharia civil na Faculdade de Engenharia do Porto.
Publicou os livros Imo (1956), Flores Negras (1954) (de que faz parte o poema acima transcrito), Livro dos Finalistas de Engenharia (1959) e Koringa (1960).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Acabo de receber a informação de que, pela minha quadra intitulada"VERDADE", me foi concedida a 1.ª das duas menções honrosas atribuídas nos XI Jogos Florais do Elos Clube de Tavira.
É um estímulo para continuar a trabalhar.
AJdeMatos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Morenito Ribeiro


LIMITES

Esbracejo de encontro ao Horizonte
Acotovelo estrelas e os astros
E naufraga de proa contra o monte
Meu navio sem velas e sem mastros.

O Tempo!... Só o tempo me limita…
Medi o Mundo todo com meus passos,
Meu coração gigante que me grita,
Põe um peso de morte nos meus braços.

O Tempo é um colete que me aperta,
E camisas de forças quem quer tê-las?...
Sobre o espanto desta alma tão deserta
Arrebentam os olhos das estrelas.

De joelhos, mãos - postas, ergo os dedos,
Tão altos como a torre duma Sé,
E aonde derrubei prisões e medos
Levantei a Pirâmide da Fé.

Morenito Ribeiro, autor de MAR VERMELHO, BAILADO DE SOMBRAS e O INFANTE E O MAR, em HORIZONTE- Abril de 1959.
Dele se escreveu: “Nos seus poemas cintilam revérberos de simplicidade. Vazados nos moldes clássicos, numa linguagem própria, comunicam-nos uma mensagem que nos faz bem auscultar.”

sábado, 13 de novembro de 2010

FERNANDO PESSOA


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa (Fernando António Nogueira de Seabra Pessoa, de seu nome completo)

Nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1888, ali viria a falecer em 30 de Novembro de 1935. Como escreveu Vasco Miranda, Pessoa foi um “poeta que se multiplicou, sem se cindir. Pessoa dá-nos, na sua poesia ortónima, estados de alma onde ele se recolhe a uma intimidade feita mistério de si mesma, intimidade em que se condensa todo o enigma do próprio poeta voltejando em torno do seu eu complexo, da própria essência.”
Fernando Pessoa, uma das maiores referências da poesia portuguesa, escreveu diversas obras utilizando, além do seu nome verdadeiro, os heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares.
São da sua autoria, entre outros, POESIAS COLIGIDAS, MENSAGEM, POEMAS PARA LILI, CHUVA OBLÍQUA, PASSOS DA CRUZ, e CANÇÕES DE BEBER.


Esperanças

Antevejo um arco-íris de esperanças
A sobrepor-se à melancolia das distância
Insuflando a alma de coragem
Em amálgama de sonhos e lembranças

Cessou há pouco a chuva inquietante
Que nosso corpo absorveu indiferente
Avezado ao sofrimento, resignado
Imperturbável, contudo confiante

Sete cores que são tréguas no deserto
Do nosso vai - vem quotidiano
Interregno das gotas que tombaram!
… Somos mais nós, sentimo-nos mais gente
Parece que há distâncias bem mais perto

E diviso mensagens de bonança
……………
Escondeu-se o céu cinzento, cor de chumbo
Para dar lugar ao Sol do nosso sangue…

Há no Céu
Um meteoro luminoso de esperança.

Aníbal José de Matos, em “ESPERANÇAS” -
Editado pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, em Cadernos Municipais.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

RAPOSO DE OLIVEIRA




Leio o jornal.
A noite desce.
E enquanto desce,
Dentro em mim cresce
A sombra da tristeza do meu mal.
Deste mal que, em resumo,
Filho de nervos despóticos,
É cinza vã, é fumo,
A envolver, calada,
Obstinada,
Inexoravelmente,
O espírito doente
De todos os nevróticos…

Nestes dias nevoentos
Em que nos toma um lúgubre torpor,
Embarcam nossos tristes pensamentos
Na Galera da Dor…

E a Fantasia, viúva
Do bom Sol de risonhos vaticínios,
Ouvindo o requiem da chuva,
Põe-se a inventar morticínios…

Leio? Suponho ler…
Um título, uma frase desgarrada…
É que os olhos preferem percorrer
A página da tarde, enevoada,
Lendo as suas legendas - sem a ver…

É quase noite, agora.
Vinda de fora,
A névoa, que tudo cobre,
Tira-me as letras do alcance.
Mas, de repente, num relance,
Fixo este nome – António Nobre.

Raposo de Oliveira, na sua obra O POETA DO SÓ, publicada em 1928, dedicada ao poeta António Pereira Nobre, que nasceu no Porto (Portugal), em 16 de Agosto de 1867, cidade onde viria a falecer em 18 de Março de 1900, vítima de tuberculose.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Aníbal José de Matos

Pesadelo

Que sonhos povoam a mente das crianças
Abandonadas por tantos desenganos,
Enquanto os rios se sobrepõem
Aos caminhos degolados pela chuva?

Que pesadelos percorrem as memórias
De quem tudo perdeu na enxurrada
De corações doentes e perversos?

Donde e quando surgirá o renascer da esperança
De povoar de novo estes vazios?

Aníbal José de Matos em "EMBARQUE EM SOBRESSALTO" - 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Daniel Duarte

(O autor, então com 35 anos)

ADEUS

Que pena, Amor, ver todos os lugares
Desertos do teu corpo, a tua vida!...
Gemem as pedras por as não pisares,
Chora o silêncio a tua voz perdida…

Passa mais triste o vento pelos ares,
Levando folhas mortas, de fugida…
Nos rochedos da praia, a voz dos mares
Tem ecos de saudade e despedida…

Mas teus sinais, Amor, não se evaporam:
Revivem na canção que os búzios choram,
Nos sonhos que o mar guarda e eram teus…

E ao quebrarem-se as ondas, uma a uma,
Eu sonho ver, na fímbria de alva espuma,
Teus braços brancos a dizer-me adeus…

Daniel Duarte

O poeta, natural de Lisboa, nasceu a 16 de Janeiro de 1930.
Frequentou as Belas-Artes, tendo-se licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Obteve o primeiro prémio, com o soneto acima transcrito, nos IX Jogos Florais – V Nacionais, do Grupo Desportivo da CUF do Barreiro, em 1965.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Guilhermina Pinto Cardoso


OUTONO

Findaram as palestras nos balcões
Sob o doce frescor das orvalhadas…
Folhas caídas ficam sepultadas
Como se fossem mortas ilusões.

Já as noites refrescam lentamente,
E lá no alto, as trémulas estrelas,
Parecem mais distantes, menos belas…
Empalidece a orla do poente.

Vejo assim as paisagens no Outono…
-Uma árvore morta, ao abandono,
Abatida no chão pela nortada…

E a haste dum lilás, mirrada, velha,
Tenta prender a última centelha
De luz que se finou cristalizada!
Guilhermina Pinto Cardoso (Castendo - Viseu).
Poema extraído do seu livro URZES DA BEIRA, escrito em 1942.
Na foto, a capa deste trabalho da poetisa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Manuel Guimarães

Dia de anos

Meu sabor de menino que fez anos
Como se foi de mim… como se foi…
Andam maiores e desenganos
A magoar-me a vida, que me dói.

E choram tantas coisas nos meus olhos!
Eles, cansados, a lembrar, demoram…
E ficam-se a olhar, olhando os olhos
De tantas coisas que em meus olhos coram.

Quero para ti as horas mais amenas
Com o sabor de céu e a formosura
De mil ondas mimosas e serenas.

Não tenhas pela vida os meus enganos
Nem Deus te leve nunca essa ventura
Do sabor da menina que fez anos.

Manuel Guimarães (do seu livro AQUELA HORA E A VIDA – 1984) (Capa aqui reproduzida)

Manuel de Jesus Ferreira Guimarães, natural da Figueira da Foz, onde nasceu em 12 de Agosto de 1916, falecendo em Lisboa a 19 de Outubro de 1992.
Dele disse um dia o poeta António de Sousa Freitas, a propósito do livro acima referido: “… retalhos de alma e coração a formarem um todo, aquele todo que é ele mesmo, homem e poeta, vida vivida, ternura, amor.”
Na verdade, neste soneto, um dos muitos que compõem a obra, o poeta figueirense mostra a sua veia literária voltada para a sublime arte da poesia.

III ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS

Um aspeto da apresentação, em Pombal, no passado sábado, da III Antologia de Poetas Lusófonos, promovida pela FOLHETO Edições, e para a qual foram selecionados os meus poemas DIGAM LÁ, LOUCURA e NESSE TEMPO.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Jerónimo de Almeida



A lição do Mar

Não há canto da terra portuguesa
Que não deixe gravada na lembrança
Uma hora de alegria ou de tristeza!

Um sorriso de amor, que não descansa,
Palpitando entre as pedras dos caminhos,
Inunda o nosso olhar de confiança!

Que lágrimas, também, quantos espinhos
Escondidos na gleba empedernida
Que Deus cobriu de flores e de ninhos!

Sempre a dor perseguindo a nossa Vida!
Sempre alguma ilusão amortalhada
No pranto da nossa alma dolorida!

Antes que chegue a luz da madrugada,
Quantos sonhos se vão amontoando
Na mais vertiginosa cavalgada!

Assim, conforme o tempo vai passando,
O coração mais tem que recordar,
Umas vezes sorrindo, outras chorando!

Por isso tu, Figueira, olhando o Mar,
Lembras ainda as frágeis caravelas
Sobre as ondas azuis a baloiçar!

Também teus filhos navegaram nelas!
Também eles sonharam novos mundos,
Com os olhos cravados nas estrelas!

Foi como um sonho que durou segundos!
Mas arde ainda, em ti, a mesma chama
Que ilumina os abismos mais profundos!

Nobre exemplo de quem a Pátria ama,
Não tardou que voltasses a servi-la
Com esse ardor sagrado que te inflama!

É porque dentro dessa fraca argila
Corre o sangue da Raça, que não morre,
E em mil feitos intrépidos, cintila!

Jerónimo de Almeida, no seu livro AINDA HÁ ROUXINÓIS…(1958)
Este poema dedicou-o o autor ao figueirense Prof. António Vítor Guerra.
A obra tem uma dedicatória especial: “À imperecível memória do ilustre figueirense Carlos Sombrio [pseudónimo de António Augusto Esteves]”

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Antologia de Poetas Lusófonos


domingo, 10 de outubro de 2010

Isaura Matias de Andrade

MISANTROPIA

Como é merquinha e falsa a Humanidade!
Quem gosta de jurar constantemente,
É falso e mau, já sabem que nos mente
Sem respeito nenhum pela verdade.

E quem exibe a sua caridade,
Pratica qualquer coisa que não sente;
Procura a forma de tornar decente
O defeito tão feio da vaidade.

O que se disse não se sente mais:
Pois qual de vós, ó míseros mortais,
É de uma só palavra a vida inteira?

Pobre de mim que sinto e sofro imenso
Sabendo que também eu vos pertenço
E devo proceder de igual maneira!...

Isaura Matias de Andrade em O MEU DESEJO

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Gomes Leal


Desejo estranho

A ideia do teu corpo branco e amado,
Beleza escultural e triunfante,
Persegue-me, mulher, a todo o instante,
Como o assassino o sangue derramado.

Quanto teu corpo pálido e sagrado
Abandonas do leito, palpitante,
Quem jamais contemplou em noite amante
Tentação mais cruel, tom mais nevado?

No entanto, - louco, excêntrico desejo!
Quisera às vezes que a dormir te vejo,
Tranquila, inerme, branca, unida a mim.

Que o teu sangue corresse de repente,
Fascinação da cor! – e estranhamente
Te colorisse o pálido marfim.

Gomes Leal


António Duarte Gomes Leal , de seu nome completo, foi um poeta e crítico literário português. Nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1848, ali falecendo em 29 de Janeiro de 1921.
Publicou, entre outras obras, A Fome de Camões, O Tributo do Sangue, A Canalha, Claridades do Sul, A Traição, O Renegado, A Morte do Atleta, História de Jesus para as Criancinhas Lerem, Troça à Inglaterra e A Senhora da Melancolia.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Acácio Antunes


Canhão e telescópio



Na torre da vetusta fortaleza,
Assenta o artilheiro o seu canhão,
Para covardemente, de surpresa,
Talar dum golpe o incauto batalhão.


É grandioso o plano, enorme a presa
Dessa campanha em que, por conclusão,
No rijo ataque e na tenaz defesa,
Mortos aos mil hão-de juncar o chão!


Doutra torre, não longe, pela fresta,
Outro artilheiro o seu canhão assesta,
Noutros campos a olhar atento e fito.


E enquanto aquele uma cidade anhela,
Este, sereno e firme, dentro dela,
Conquista os vastos mundos do infinito!


Acácio Antunes

De seu nome completo Acácio Graciano Antunes Brás, nasceu na Figueira da Foz em 26 de julho de 1853 e faleceu em Lisboa a 2 de abril de 1927.
Foi poeta distinto e jornalista, Escreveu os livros de poemas AGUARELAS E ÁGUAS FORTES e DA PRIMAVERA AO OUTONO.


Lucía Serrano


PAJARO VESTIDO
Me convida el lucero
a llegar más alto
cada día,
y encuentro las calles
de mi infancia,
aquel olor a trigo,
a viento de eucaliptus.
Diviso el terreno
antes de comenzar
a recorrerlo
y más tarde olvido.
Siempre de pie
el hombre es
un pájaro vestido.

Lucía Serrano (Buenos Aires - Argentina) em La Sangre que faltaba

domingo, 26 de setembro de 2010

Luiz de Aquino


Luiz de Aquino em "MENINA DOS OLHOS" - Goiânia (Brasil) - 1987
Um livro que o autor me ofereceu em 20 de março de 2001, quando me desloquei àquela cidade do interior brasileiro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Visitas


domingo, 19 de setembro de 2010

Aníbal José de Matos


A uma criança


Tu que és vida!
Que brincas e que ris
E a tudo que é nada dizes nada!
Tu que saltas e que choras
E ainda ris!
Que lesto corres e saltitas,
Que colhes borboletas e as soltas
Para que vivam!

Que pulas de flor para flor
Em busca das abelhas que são vida!

Que és alheio à dor e à incerteza,
… Vive!

Aníbal José de Matos

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


O cão e o lobo

Conta-se que certo dia
Velho lobo desnutrido
Cambaleando buscava
Animal doente ou ferido.

Eis que vê assomar
Cão luzidio e lustroso
E impetuosamente se vê
Lutando com ar airoso.

Logo a prudência lhe diz:
- Vê se és mais cuidadoso
Pois ó insigne caçador,
Já não és mais temeroso.

Largos elogios se pôs
Ao cão então a tecer
Que levado pela vaidade
Sua vida fez saber.

- Amigo, fez-me a ventura
Não ter na vida cuidados
Nunca busco meus manjares
Pois mos dão bem variados.


Estou gordo e mui anafado
Vivo vida aprimorada
Meus congéneres nunca o dizem
Mas eu sei que é cobiçada.

Se queres viver nédio e gordo
E vida aprazível ter
Deixa estas íngremes fragas
E vem connosco viver.

-Diz-me que faço a teu dono
Para ter tais mordomias
Atalha o lobo espumando
Antevendo as iguarias.

-Pouca coisa - lhe atalha o cão
Adular os seus amigos
Lamber também sua mão
E latir aos inimigos

Chorando de emoção
Já corre o lobo esfaimado
Mas ao descer a encosta
Nota o pescoço esfolado.

- Que é isso companheiro
Quem te feriu tão gravemente
- Não é nada, atalha o cão
É da corrente somente.

-Corrente! Mas que corrente!?
Lhe diz o lobo surpreso
Então isso quer dizer
Que tu ficas às vezes preso!?

- Apenas durante o dia
Para não assustar ninguém
À noite logo me soltam
Que mal é que isso tem!?

- Pois então não quero ir
Não quero tal sujeição
Antes me quero faminto
Do que em tal castração.

Lobo e cão logo se foram
Pensando pelo caminho
Afinal não sou feliz
Muito menos meu vizinho.

Maria Almeida - Porto

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não me acordes

Por favor não me acordes,
Não cortes os meus sonhos pela raiz,
Não me retires a tranquilidade
Dos dias que não vêm.
Não derrubes os pesadelos
Mais reais dos que a própria vida
Que me rouba os minutos
Duma hora que não surge.

Quero somente repousar
No meu leito de ilusões,
Quero sobreviver
Ante a avalancha das tormentas
Dum mar que nada tem de azul
Junto aos fragmentos duma praia
Em que o areal é feito só de sombras.

Aníbal José de Matos, 7 de Setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vinicius de Morais



Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo o grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinicius de Morais

Vinicius de Moraes, nasceu no Rio de Janeiro (Brasil), em 19 de outubro de 1913, ali falecendo a 9 de julho de 1980. Foi diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor.
"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia."

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

POESIA

I N T E R V A L O

POESIA segue dentro de momentos...

Saudações aos meus 26 seguidores e a todos os visitantes.

Vou ausentar-me por uns dias, contando regressar a 2 de setembro.

Até já.

domingo, 22 de agosto de 2010

Blogosfera


Este blogue faz parte da recém-criada Associação de Blogs e Bloggers da Figueira da Foz

sábado, 21 de agosto de 2010

Rio Grande



O Dia do Nó

Era quase meio-dia
'A noiva está a chegar'
O padre com bonomia
Faz sinal à galeria
A função vai começar
O povo pôs-se em sentido
Nós à frente lado a lado
Estava tudo bem vestido
Ela de branco e comprido
Eu com um fato riscado
O sermão chegou ao fim
Alianças com o nome
Quando gastou o latim
Dissemos os dois que sim
Já estava tudo com fome
Nos retratos com fogacho
À saída da Igreja
Os chegados mais em baixo
Os outros ficam em cacho
Isto tudo salvo-seja
Está na hora do cortejo
Também tem os seus preceitos
As mulheres mandam um beijo
Os homens lembram desejo
Todos atiram confeitos
Com ervas que nem eu sei
Os comeres são temperados
Parece a mesa de um rei
E antes que o vinho almareie
Canta-se aos recém-casados

Rio Grande

Rio Grande, foi um grupo musical português fundado em 1996, constituído por Rui Veloso, Tim (Xutos & Pontapés), João Gil (Ala dos Namorados e Filarmónica Gil), Jorge Palma, Vitorino e João Monge, que alcançou uma considerável popularidade em Portugal, gravando dois CD’s: "Rio Grande" (1996) e "Dia de Concerto" (1998), obtendo o primeiro quatro vezes disco de platina.

Chico Xavier


Se eu morrer antes de você

Se eu morrer antes de você,
faça-me um favor:
Chore o quanto quiser,
mas não brigue com Deus
por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.
Se não conseguir chorar,
não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem
algum facto a meu respeito,
ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo,
só porque morri,
mostre que eu tinha um pouco de santo,
mas estava longe
de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demónio,
mostre que eu talvez tivesse um pouco
de demónio, mas que a vida
inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero estar com Ele o suficiente para
continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever
alguma coisa sobre mim,
diga apenas uma frase:
- "Foi meu amigo,
acreditou em mim
e me quis mais perto de Deus!"
- Aí, então, derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la,
mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído,
irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando,
dê uma espiadinha na direção de Deus.
Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz
vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai,
aí, sem nenhum véu a separar a gente,
vamos viver, em Deus,
a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Então ore para que nós vivamos
como quem sabe que vai morrer um dia,
e que morramos como
quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu
para mais perto da gente,
e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você,
acho que não vou estranhar o céu...
"Ser seu amigo...
já é um pedaço dele..."
Chico Xavier

Francisco de Paula Cândido Xavier, nasceu em Pedro Leopoldo (Brasil), em 2 de abril de 1920 e faleceu em Uberaba, a 30 de junho de 2002).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Feitiço do tempo

Fazes parte do meu imaginário
Como uma jóia num relicário.
Sublime como obra de arte
A mais rara de um museu.
És tudo o que me resta,
És como o último minuto
Que falta para o fim do dia.
Vejo-te como um talismã
Que já não tem amanhã
Porque o amanhã não existe.
És como o eterno feitiço
Do tempo que está a acabar.

Subo ao mais alto monte
Para ver a planície.
Resume-se o horizonte
Ao vento que sopra e passa
Como um rosto que sorrisse
Sem fazer um movimento.
Um movimento leve, leve,
Tão infinitamente leve
Como a alva e pura neve
Que há muito deixou de cair...

É o fim de um longo dia
Que ainda ontem começou
Com um calor tão intenso
Que hoje até me convenço
Que meu corpo alimentou
Com o mais vivo lume
Que queima como o ciúme.

Mas na vida tudo parte
Sem magia, sem mais arte...
Tudo passa
Tão sem graça
Que me dói o coração.
Dói-me sem mais razão
Porque o segredo
Que guardo com tanto apego
É como o feitiço do tempo!

Olho este mundo corrupto
Sem dar qualquer atributo
Que não saibas possuir.
Sinto em mim um sério medo
Porque ainda é muito cedo
Para te dizer: “Vou partir.”

Minha alma não contesta
O fraco amor que lhe resta...
No monte mais alto do mundo
Continuo a ver a imagem
Que me arrastou num segundo
Para a mais louca viagem.

Hoje nada mais me resta
Senão a lembrança da festa
E nada mais do que isso!...

Guardo no pensamento
Esse amor como feitiço,
Como um feitiço do tempo.

Filipa Duarte (Poetisa de Tondela)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


SONHO VERSUS REALIDADE


Deixem-me sonhar e rir
Embebedar-me em rios de desejo
E rolar entre campos azuis de miosótis.

Deixem-me voar com asas de esperança,
Pairando sobre rotas sublimes!

Deixem-me acreditar que vivo
E não percorro áleas de quimera.

Deixem-me sonhar e rir!

Que ao menos este sonho que eu sonho,
Ao despertar
Me legue a ternura dum sorriso
No oásis do nosso desencanto.

Aníbal José de Matos - 1992

domingo, 1 de agosto de 2010

Filipa Duarte



A Poesia

A poesia nasce, não se aprende,
É algo que brota do nosso seio,
Tão forte, como acha que acende
E torna Belo o que parece feio.

Quantas vezes o mundo não entende,
E vê vazio no que está cheio.
Há sempre um humano que se rende
E crê que a poesia é um anseio.

O sentir é quase Universal,
Difícil é, por vezes, escrevê-lo.
É uma tentativa racional!

O arranjo final é sempre belo,
Vem de dentro de nós, é natural,
Voa-se no espaço, ao fazê-lo...

Filipa Duarte, in Sons e Ecos, 1991

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Zulmira Rito Cardoso


OSMOSE !?...

Não penses meu amigo
que foges ao sentir que é teu,
quando “construindo” palavras
em tons cinzentos ou de mil cores!

… Não foges meu amigo,
elas são traçadas
pela tua mão que “cria”
através da osmose de todo o teu ser.
És tu.
A tua dimensão espiritual,
o teu passado,
que só alma revela.
O teu corpo sofrido, belo, porque humano,
anuncia para além do infinito
habitado em ti!

Escrever é catarse
do Divino que começa
e, acaba para além do teu eu,
e, em ti alcança
o sentir profundo
do universo que é teu!

Em cada palavra
és tu que lá estás,
mesmo fugindo…
Ao som clamoroso ou tempestivo.
Mesmo que tentes ser o “fingidor”
os sinos da tua aldeia
tocam sem fim e te denunciam…
E, dizem tudo aquilo
que queres dizer e não dizes
tudo o que nelas existem:
Envoltas em neblina
ou em claro amanhecer.
No fingir ou fugir
És sempre tu!...

P.S. Quando Fernando Pessoa dizia ser o poeta um “fingidor”, creio que ele queria “fugir” dele próprio. E, ele conseguiu isso nos seus diversos heterónimos. Mas, não deixou de ser ele no todo – só que efabulando.
Ouvindo, verdadeiramente, os sinos da sua aldeia, embora tenha vivido sempre, em grandes cidades. Lisboa, onde nasceu, não era mais do que uma aldeia no seu sentir de poeta.
Os sinos eram os seus… nos seus muitos e multifacetados olhares! Todos os poetas, na minha opinião, são isso mesmo… fingidores com todo o que têm dentro de si, e, ao qual podem fingir, mas, não fugir!

Poema e comentário de ZULMIRA RITO CARDOSO (membro da Igreja Evangélica Presbiteriana Figueirense) – Julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Embarque em Sobressalto


"Foi um prazer ler Embarque em Sobressalto de
Aníbal José de Matos.
Os poemas transportam-nos
para um imaginário belo e sedutor.
Vou estar
presente no dia 30 de Julho para cumprimentar o
Poeta e dar-lhe os meus parabéns!
"A vida é o
momento por que passas."
Filipa Duarte"
.
Nota: Filipa Duarte é uma distinta poetisa de Tondela, cidade onde, no próximo dia 30 de julho, pelas 19 horas, na galeria de exposições do Mercado Velho, irá decorrer a apresentação do meu mais recente livro de poesia, EMBARQUE EM SOBRESSALTO.
A obra encontra-se à venda na FEIRA DO LIVRO DA FIGUEIRA DA FOZ, no stande de EDIÇÕES MUNICIPAIS.
.
FILIPA DUARTE é o nome poético de Maria de Lurdes Marques de Loureiro Silva.
Natural do Concelho de Tondela, onde reside desde 1975, é Engenheira Agrónoma de profissão, tendo ainda o Mestrado em Ciências Agrárias. Desempenha funções na Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, em Viseu.
.
Escreve poesia desde os 16 anos, mas só em 1976 publica pela primeira vez poemas seus.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Aníbal José de Matos


Os rios correm entre margens

Não faças contas à vida
Que a vida não tem contas p’ra contar.
Não lances o olhar sobre o amanhã
Que o hoje ainda não chegou ao fim.
As estrelas esperam pela noite
E para ti ainda não é tarde.
O dia começou há pouco
E tu ainda não tens história
Que possa ser coberta com as rendas
De quem espera que aprofundes
Os rios que correm entre margens.

Amanhã não é um novo dia;
A vida é o momento por que passas.


Aníbal José de Matos, em EMBARQUE EM SOBRESSALTO.

Este poema foi declamado por Adélio Amaro, na apresentação do livro em SANTA COMBA DÃO.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aníbal José de Matos


Ainda bem que vieste

Chegaste em fim de tarde acalmia
Quando mal despontava a Primavera,
E já o amor em meu peito era utopia,
Vergado sob o carrego da espera.

Surgiste como barco no horizonte
A quem se acena com lenços de esperança,
Serias o brotar de nova fonte,
Aliciante brinquedo de criança.

Mas se vieste apenas de passagem,
Alimentar minh’alma de coragem,
P’ra que de novo vivesse sonho lindo,

Quero dizer-te, Amor, sem ironia,
Mesmo sabendo perder-te algum dia,
Foi bom que mesmo assim tivesses vindo!

Aníbal José de Matos em “CONFLITOS”

segunda-feira, 5 de julho de 2010


Esta profetisa [Sibila de Cumas] pediu a Apolo tantos anos de vida quantos os grãos de areia contidos numa mão de areia. Mas esqueceu-se de pedir a juventude. Ficou por isso tão velha, que teve de ser encerrada no templo de Apolo. Viveu nove vidas de 110 anos cada.

Ó Sibila

Ó insana profetiza que não soubeste
Pedir à eternidade a juventude
E na ânsia esquartejante não pediste
O frescor e o rubor em plenitude.

Ó insana porque quiseste
O tamanho da vida em grãos de areia
E esqueceste que a grandeza de uma vida
Se erege como teces essa teia!

Ó imprudente devias saber
Não querer essa cobiça esgueirada
Para quê viver tão longamente
Em perpétua velhice enclausurada!

Poesia enviada por Maria Almeida

domingo, 4 de julho de 2010


Rosas Vermelhas

Por entre as minhas mãos perpassam rosas
Flores colhidas de insólito jardim
Ramos trazidas por outras carinhosas
De alguém, sei lá se mesmo para mim!

E recordo tantas rosas que já vi,
Tantas flores de caminhos que trilhei,
Frescos jardins que na vida percorri
Qual deles o mais belo que pisei!

Mas as rosas que vejo entre meus dedos,
Pétalas mil pejadas de segredos
Trocados nos jardins donde vieram,

São das flores mais lindas que encontrei,
Rosas vermelhas dum sonho que sonhei!
Deus abençoe as mãos que mas trouxeram.

Aníbal José de Matos em “Esperanças”-1982)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

VITORINO NEMÉSIO


Campos do Mondego


Salgueirinhos dos campos do Mondego.
Mais tenros do que os gestos dos meus filhos,
Cá venho ver-vos. Álamos e milhos,
Eis a rima, a noz oca do “sossego”.

Tudo quanto floristes no pilriteiro
No pilrito te dou desta saudade;
Mas olha que, se um homem é verdade,
Pobre que seja, vale um rio inteiro.

Sujo das minhas águas arrastadas,
Um momento me espelho dos teus dias
Pelas redondas águas sossegadas,

Como aquelas laranjas de oiro ardente
Que o comboio passando torna frias
Neste meu vago coração corrente.

Vitorino Nemésio

Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva , de seu nome completo, nasceu na Praia da Vitória (Açores) em 19 de Dezembro de 1901, e faleceu em Lisboa a 20 de Fevereiro de 1978. Foi um poeta, escritor e intelectual de origem que se destacou como romancista. Entre outras obras, foi marcante o seu MAU TEMPO NO CANAL. Foi professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e o público conheceu-o também como autor do programa da RTP, de grande sucesso, SE BEM ME LEMBRO.

domingo, 27 de junho de 2010

Embarque em Sobressalto

No semanário "O DEVER"

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Aníbal José de Matos

Pela tua óptica

O mar imenso dos teus sonhos
Não vai além dum riacho nos teus olhos.
Quando encaras a realidade
Minimizas a grandeza do Oceano.

E as rochas são pequenas pedras negras
Onde dormitam as gaivotas.

Porque teimas em não olhar de frente
A gigantesca força
De quanto te rodeia!


Aníbal José de Matos (do livro agora lançado EMBARQUE EM SOBRESSALTO)

sábado, 19 de junho de 2010

Carlos Paião


CEGONHA

Olá cegonha, gosto de ti!
Há quanto tempo, te não via por ai!
Nem teus ninhos nos telhados,
Nem as asas pelo céu!
Olá cegonha! Que aconteceu?

Ainda me lembro de ouvir-te dizer,
Que tu de longe os bebes vinhas trazer!
Mas os homens vão crescendo,
E as cegonhas, a morrer!
Ainda me lembro...não pode ser!

Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha...é bom sonhar!
No teu destino, por nós traçado!
Leva o menino, que é pequenino, toma, cuidado!

Adeus cegonha, adeus lembranças...
A gente sonha, como crianças!
Faz outro ninho, no som dos céus!
Vai de mansinho, mas pelo caminho, diz-nos adeus!

Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha... é bom sonhar!
No teu destino, por nós traçado...
Leva o menino que é pequenino, toma cuidado!
Leva o menino... mas tem cuidado!...

Carlos Paião


Carlos Manuel de Marques Paião, de seu nome completo, nasceu em Coimbra a 1 de Novembro de 1957, falecendo em Rio Maior, em 26 de Agosto de 1988, quando, a caminho de um espectáculo em Penalva do Castelo, sofreu um violento acidente de automóvel.
Carlos Paião, de quem ainda muito havia a esperar, era licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra.
Compositor, intérprete e instrumentista, Carlos Paião produziu mais de 300 canções, entre as quais Souvenir de Portugal, Eu Não Sou Poeta, Play Back, Pó de Arroz, Marcha do Pião das Nicas, Zero a Zero, Meia Dúzia, Vinho do Porto, Vinho de Portugal, O Foguete, Cinderela, Versos de Amor, Arco Íris, Lá Longe Senhora e CEGONHA, cujo poema reproduzo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

SEBASTIÃO DA GAMA


"O Poeta beija tudo, graças a Deus. E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade… E diz assim: “É preciso saber olhar…”. E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos. E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás… E perde tempo (ganha tempo…) a namorar uma ovelha… E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso… E acha que tudo é importante… E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim… E reparou que os homens estavam tristes… E escreveu uns versos que começam desta maneira: “O segredo é amar…”."

Sebastião da Gama

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nesse tempo

Quando era criança
Voava sobre as árvores contra os ventos,
E os ninhos dos pássaros transpiravam
Com o calor das manhãs de Primavera.

Quando era criança
Lançava-me em cascatas de água pura,
E os comboios circulavam numa pressa
Sobre carris imaginários.

Quando era criança
Empunhava espadas de papel
E os aviões planavam no quintal
E poisavam no pessegueiro junto ao poço.

Quando era criança
Tinhas caracóis e vestidos coloridos
Iluminados pelo sol das madrugadas
Que adornavam teus olhos cor do mar.

Quando era criança
Desejava ser adulto para te amar
E envolver-te num abraço sem final
Como se a vida não fosse mais além.

Mas os cabelos brancos desta hora
A contrastar com os loiros de miúdo
Impelem-me a expressar este lamento:
Quem me dera voltar a ser criança!


Aníbal José de Matos (do livro EMBARQUE EM SOBRESSALTO)



sábado, 12 de junho de 2010

Foi apresentado EMBARQUE EM SOBRESSALTO



Foi muito concorrido o acto do lançamento do meu terceiro livro de poesia, EMBARQUE EM SOBRESSALTO, evento que decorreu no auditório municipal da Figueira da Foz.
A obra foi editada pela FOLHETO de Leiria, e a apresentação esteve a cargo do ex-director do jornal O FIGUEIRENSE, António Jorge Lé.
Fiquei deveras sensibilizado não apenas pelo número de pessoas que acedeu ao convite endereçado e pela elevada aquisição de exemplares da obra, mas, principalmente, pelas palavras que ao longo da sessão me foram dirigidas.
A todos o meu muito obrigado.


Embarque em Sobressalto

Este sábado,
no auditório municipal da Figueira da Foz


Pelas 18 horas deste sábado, no auditório do Museu Municipal da Figueira da Foz (edifício do Museu e Biblioteca Municipais) decorre o lançamento do meu livro de poemas, EMBARQUE EM SOBRESSALTO, que tem capa e ilustrações de Mário Silva e prefácio de António Augusto Menano.
A apresentação, que contará com a presença de Manuel Portugal (guitarra de Coimbra), será feita pelo ex-director de O FIGUEIRENSE, António Jorge Lé.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Porto de abrigo

Percorrer caminhos rectilíneos
Sem encruzilhadas que obstruam minha mente,
Sem ladeiras nem paredes que travem meu sentir,
Quiçá um desejo sem nexo
Que se estende num rol de enigmas.

Encontrar o almejado porto de abrigo
Com portas à mercê dos meus passos
E deparar com a lareira
Do calor do teu abraço.

Sonhos acalentados sem dormir
No espaço reservado à minha dor,
Porque só a noite permite
Metamorfoses à minha escala.

Quero encontrar-te custe o que custar
Nem que para tanto
Tenha de percorrer o espaço
Que parece intransponível.

Aníbal José de Matos – 10 de Junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Ricardo Miñana

LEVANTATE Y CAMINA

Allá en el horizonte
donde el mar besa el cielo,
el atardecer destella sobre el agua
saltando vivos reflejos de luz....

Se abre camino la esperanza,
es la chispa de la ilusión,
que mira desde la distancia
la vida de otro color....

Esa sensación de vacío
que sientes recordando el pasado,
se perderá por el camino que llega al corazón
cuando la oscuridad mire hacia la luz....

Escucha los sonidos del silencio
para ver el camino del destino,
donde una estrella risueña
refleja sus rayos de luz....

No hay palabras de consuelo
cuando el amor se siente herido,
mira hacia el cielo estrellado
porque cada día es un nuevo amanecer....

La tristeza desequilibra los sentidos
nunca llegas a ninguna parte,
hasta que una fugaz mirada al futuro
escuchas que te dice levántate y camina....


Ricardo Miñana (Escritor - Valência - Espanha. Do seu blogue PENSAMIENTOS DE UN HOMBRE)

sábado, 5 de junho de 2010

Segue

Não guardes o que se perdeu no tempo
Nem chores pelos ribeiros
Que dividem o amor com os riachos.

Não te percas em labirintos
Que se confundem com o vento
Que sopra de todos os quadrantes.

Livra-te dos escolhos
Que te prendem com fios invisíveis
A terrenos inconformados.

Caminha por veredas verdejantes
Que te alimentem o espírito
E não te consumam a alma.

Aníbal José de Matos – 5 de Junho de 2010

"Dos jornalistas que se aventuram na literatura exige-se que levem uma vida dupla, isto é, que usem duas canetas, uma para os romances, contos e poemas, outra para as notícias e reportagens."

José de Broucker - jornalista francês (Do blogue De Ouro e Poeira, com a devida vénia)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Amália Rodrigues


Rosas do meu caminho



Quem julga que são rosas as pedras do meu caminho
Não sabe que encontrei sempre nas rosas que me deram
Perfumes que ao colher, me deixaram espinhos
Dos olhos me caiu o sangue que fizeram

Porque o perfume é passageiro, é fugaz
Como lume que nos faz mais firme à cinza aquecida
E os espinhos numa ferida que me doa
Na alma de uma pessoa duram tanto como a vida

Quisera como dantes saber rir em gargalhadas
Tão ricas que no ar ganhassem formas esculpidas
Porém no sol da vida há nuvens equiparadas
Enchem de sombras negras a luz de certas vidas

E quando canto todos vêem com certeza
Na minha vida a beleza dum sonho que quer vingar
Mas ninguém pode dar vida a um sonho belo
É construir um castelo que é todo feito no ar

Amália Rodrigues, o símbolo do fado, nasceu em Lisboa a 1 de Julho de 1920, cidade onde faleceu em 6 de Outubro de 1999.

Para lá da intérprete inigualável, escreveu também alguns poemas como aquele que ora transcrevo.
 
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