sábado, 30 de maio de 2009

Sem destino

Vai pelo mar fora em busca do horizonte,
Domina os mares
Galgando ondulações,
Atravessa continentes
E nunca verás o horizonte!
Não são o alfa e o ómega,
Não vais encontrar princípio ou fim,
E retomarás o ponto de partida.
Verás, sim, o que não podes alcançar.
O mal e o bem, esses sim,
Estão a teus pés
E não precisas de sair do teu lugar.

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Aníbal José de Matos, do livro em preparação "TANTOS ANOS"

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ruy Belo

E tudo era possível
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Na minha juventude antes de ter saído
da casa dos meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

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Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
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E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quanto foi isso? Eu próprio não o sei dizer
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Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

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Ruy Belo
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RUIde Moura Ribeiro BELO, nasceu em S. João da Ribeira (Rio Maior), em 27 de Fevereiro de 1933, e faleceu em 8 de Agosto de 1978, apenas com 45 anos, em Monte Abraão (Queluz).
Poeta de reconhecido mérito, escreveu, entre outros, Aquele Grande Rio Eufrates, Boca Bilingue, Homem de Palavra(s), País Possível, Transporte no Tempo, A Margem da Alegria, Toda a Terra e Despeço-me da Terra da Alegria, este livro escrito um ano antes da sua morte.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

José António Matos

Deste licor testemunho,
como quem acorda sem recusar
a luz.
Aprendi nos livros
a posição do cálice, geometria
dos avós. Nasci
para o calor da sede.
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De "No Rigor" (1984).
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José António Neto e Matos, filho de Aníbal José de Sousa e Matos, é figueirense e licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, sendo funcionário do Museu Municipal Dr. Santos Rocha (Figueira da Foz).É autor do livro "Antecâmara", de Editorial Escritor, Ld.ª - Abril de 1998 -

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage, nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765, falecendo em Lisboa em 21 de Dezembro de 1805.
Poeta português de grande prestígio, era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.
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Já Bocage não sou
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Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão a mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
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Como pode ler-se no romance, "Já Bocage Não Sou", de José Jorge Letria, este soneto foi "ditado entre as agonias do seu trânsito final".

sábado, 9 de maio de 2009

Olavo Bilac


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, a 16 de Dezembro de 1865, cidade onde faleceu em 28 de Dezembro de 1918.
Foi jornalista e poeta, sendo membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
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Olhando a corrente
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Põe-te à margem! Contempla-a, lentamente.
Crespa. turva, a rolar. Em vão indagas
A que paragens, a que longes plagas
Desce, ululando, a lúgrume corrente...
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Vem de longe, de longe... Ouve-lhe as pragas!
Que infrene grita, que bramir frequente,
Que coro de blasfêmias surdamente
Rolam na queda dessas negras vagas!
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Choras? Tremes? É tarde... Esses violentos
Gritos escuta! Em lágrimas, tristonhos,
Fechas os olhos?... Olha ainda o horror
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Daquelas águas! Vê! Teus juramentos
Lá vão! lá vão levados os meus sonhos,
Lá vai levado todo o nosso amor!
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Da obra "Poesias" - 7.ª edição - 1921

 
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