segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Arroja Júnior

Moçâmedes, atualmente designada Namibe,
em Angola,
onde nasceu Joaquim Pedro Arroja Júnior
.
Nêguinho Graxadô
Quem qué graxá...
vai nêguinho graxadô
da cô da graxa qui tem
sempre a gritá:
Quem qué graxá... á... á?
Vai alma pênada
subir calçada
decê venida
corrê rua fora
como flô vencida
n'auga caída
do riacho a soluçá:
quem qué graxá... á... á?
"- Siô dõtô vem só graxá
os sapatinho
fica mesmo a briá".
Mas siô dòtô
não qué graxá
sapatinho dele
E o nego coitado
não fica desanimado
diz: hê... hê... hê...
não faz male
fica poutro dia
e lá vai alma pênada
subir calçada
corrê rua fora
e hê... hâ... hê...
mostrando os dentes brancos
e os oitos a briá
e sempre a gritá
quem qué graxá... á... á?!
Arroja Júnior (Joaquim Pedro Arroja Júnior), poeta angolano.
Com 7 anos foi para o ex-Congo Português e, depois do curso liceal, veio para o continente, onde cursou engenharia civil na Faculdade de Engenharia do Porto.
Publicou os livros Imo (1956), Flores Negras (1954) (de que faz parte o poema acima transcrito), Livro dos Finalistas de Engenharia (1959) e Koringa (1960).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Acabo de receber a informação de que, pela minha quadra intitulada"VERDADE", me foi concedida a 1.ª das duas menções honrosas atribuídas nos XI Jogos Florais do Elos Clube de Tavira.
É um estímulo para continuar a trabalhar.
AJdeMatos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Morenito Ribeiro


LIMITES

Esbracejo de encontro ao Horizonte
Acotovelo estrelas e os astros
E naufraga de proa contra o monte
Meu navio sem velas e sem mastros.

O Tempo!... Só o tempo me limita…
Medi o Mundo todo com meus passos,
Meu coração gigante que me grita,
Põe um peso de morte nos meus braços.

O Tempo é um colete que me aperta,
E camisas de forças quem quer tê-las?...
Sobre o espanto desta alma tão deserta
Arrebentam os olhos das estrelas.

De joelhos, mãos - postas, ergo os dedos,
Tão altos como a torre duma Sé,
E aonde derrubei prisões e medos
Levantei a Pirâmide da Fé.

Morenito Ribeiro, autor de MAR VERMELHO, BAILADO DE SOMBRAS e O INFANTE E O MAR, em HORIZONTE- Abril de 1959.
Dele se escreveu: “Nos seus poemas cintilam revérberos de simplicidade. Vazados nos moldes clássicos, numa linguagem própria, comunicam-nos uma mensagem que nos faz bem auscultar.”

sábado, 13 de novembro de 2010

FERNANDO PESSOA


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa (Fernando António Nogueira de Seabra Pessoa, de seu nome completo)

Nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1888, ali viria a falecer em 30 de Novembro de 1935. Como escreveu Vasco Miranda, Pessoa foi um “poeta que se multiplicou, sem se cindir. Pessoa dá-nos, na sua poesia ortónima, estados de alma onde ele se recolhe a uma intimidade feita mistério de si mesma, intimidade em que se condensa todo o enigma do próprio poeta voltejando em torno do seu eu complexo, da própria essência.”
Fernando Pessoa, uma das maiores referências da poesia portuguesa, escreveu diversas obras utilizando, além do seu nome verdadeiro, os heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares.
São da sua autoria, entre outros, POESIAS COLIGIDAS, MENSAGEM, POEMAS PARA LILI, CHUVA OBLÍQUA, PASSOS DA CRUZ, e CANÇÕES DE BEBER.


Esperanças

Antevejo um arco-íris de esperanças
A sobrepor-se à melancolia das distância
Insuflando a alma de coragem
Em amálgama de sonhos e lembranças

Cessou há pouco a chuva inquietante
Que nosso corpo absorveu indiferente
Avezado ao sofrimento, resignado
Imperturbável, contudo confiante

Sete cores que são tréguas no deserto
Do nosso vai - vem quotidiano
Interregno das gotas que tombaram!
… Somos mais nós, sentimo-nos mais gente
Parece que há distâncias bem mais perto

E diviso mensagens de bonança
……………
Escondeu-se o céu cinzento, cor de chumbo
Para dar lugar ao Sol do nosso sangue…

Há no Céu
Um meteoro luminoso de esperança.

Aníbal José de Matos, em “ESPERANÇAS” -
Editado pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, em Cadernos Municipais.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

RAPOSO DE OLIVEIRA




Leio o jornal.
A noite desce.
E enquanto desce,
Dentro em mim cresce
A sombra da tristeza do meu mal.
Deste mal que, em resumo,
Filho de nervos despóticos,
É cinza vã, é fumo,
A envolver, calada,
Obstinada,
Inexoravelmente,
O espírito doente
De todos os nevróticos…

Nestes dias nevoentos
Em que nos toma um lúgubre torpor,
Embarcam nossos tristes pensamentos
Na Galera da Dor…

E a Fantasia, viúva
Do bom Sol de risonhos vaticínios,
Ouvindo o requiem da chuva,
Põe-se a inventar morticínios…

Leio? Suponho ler…
Um título, uma frase desgarrada…
É que os olhos preferem percorrer
A página da tarde, enevoada,
Lendo as suas legendas - sem a ver…

É quase noite, agora.
Vinda de fora,
A névoa, que tudo cobre,
Tira-me as letras do alcance.
Mas, de repente, num relance,
Fixo este nome – António Nobre.

Raposo de Oliveira, na sua obra O POETA DO SÓ, publicada em 1928, dedicada ao poeta António Pereira Nobre, que nasceu no Porto (Portugal), em 16 de Agosto de 1867, cidade onde viria a falecer em 18 de Março de 1900, vítima de tuberculose.
 
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