sexta-feira, 20 de maio de 2016


Miguel Torga

Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.
 
Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Correia da Rocha, (1907 - 1995).
Poeta e escritor português.
 

domingo, 15 de maio de 2016


Cidália Rodrigues
 


Do patamar

Do patamar da varanda
Vejo a escola onde andei,
Ponho-me a olhar…
E por entre os verdes ramos da laranjeira
Vejo o que foi o sonho…

Há Luz no recreio
Saltos e palmas, 
Que alegria
VER todas as crianças a brincar na primavera
Esquecer o frio e chuva do duro inverno
Esperar cantando o sonho da quimera.

Tantos anos passaram
E o sonho vivi,
Ponho os olhos na escola
E sonho outra vez pelo que aprendi.

Acordo do devaneio
Levantando os olhos bem alto
Vejo o azul do céu que me bafeja
Além uma andorinha,
Voando de ramo em ramo
À procura do sol quente
À procura das sementes
Para fazer o seu ninho
Mais além um limoeiro
Com seus ramos esticados
Há um cheiro a laranjeira
De laranjas doces e amarelinhas
Que belo este dia,
Em que me fraseio
À Luz do Sol quente
Em puro mês de Fevereiro

Cidália Rodrigues  (In DOS FRANCESES ATÉ À GUIA)
 
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