sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal- 2009

Um Santo e Feliz Natal
A Holy and Happy Christmas


Natal- 2009


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

II Antologia dos Poetas Lusófonos

Apresentação no Porto


"Serão da Bonjóia
Terça-feira – 29 de Dezembro.09 – às 21h15
“A Lusofonia como voz no mundo”
“II Antologia de Poetas Lusófonos”

Falar de Lusofonia é sublinhar a Língua Portuguesa no Mundo. A obra, recentemente editada, “II Antologia de Poetas Lusófonos”, assim como a Academia de Letras e Artes Lusófonas, que a promove, serão dadas a conhecer ao Serão da Bonjóia.

“A II Antologia de Poetas Lusófonos surge com os objectivos nobres de promover a Língua Portuguesa, de promover a Lusofonia e de promover os poetas que espalham as suas veias inspiradoras por todo o Mundo, tal como o fizeram os grandes vultos da Lusofonia… Unir poetas que nesta aldeia global, conseguem unir esforços e vontades para levar a efeito este livro”.

Este Serão da Bonjóia, que se realiza esta Terça-feira, contará com a presença do Presidente da Academia de Letras e Artes Lusófonas, Dr. Arménio Vasconcelos; do Coordenador e Editor da Obra Dr. Adélio Amaro; e em representação de todos os poetas participante a Poetisa Libânia Madureira. O Serão será moderado pelo Prof. Doutor Carlos Mota Cardoso.

Será um momento de reflexão sobre a lusofonia no Mundo."

Quinta de Bonjóia - Rua de Bonjóia, 185, Campanhã - Porto
Entrada Livre
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Tive o grato prazer de ver incluídas nesta II Antologia dos Poetas Lusófonos, cuja primeira apresentação decorreu no Mosteiro da Batalha, cinco poemas da minha autoria.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal- 2009


sábado, 5 de dezembro de 2009

Aníbal José de Matos

Onde?

Alcanço o Sol com a minha mão,
Seguro a lua com a minha vista,
Só tu estás tão perto e não te vejo
Nem te sinto.
Por onde andará a tua sombra?
Onde pernoitarão os meus sonhos?
Grito e não me ouves,
Caminho e não te encontro.
O que é feito de ti oh meu amor?!

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Aníbal José de Matos (do livro em construção, "TANTOS ANOS") a editar (em princípio...) no primeiro semestre de 2010.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Acácio Antunes

Indelével

Uma vez só toquei as tuas mãos pequenas,
Uma só vez ouvi a tua voz suave;
Mas senti o contacto ideal das açucenas,
Mas ouvi nesses sons doces gorjeios de ave.

Hoje, após tanto tempo, embora então apenas
Durasse um só instante esse gentil conclave,
Lembram-me exactamente as tuas mãos pequenas,
Recordo-me ainda bem da tua voz suave.

E muita vez, cerrando as pálpebras serenas,
Para que essa impressão melhor na mente grave,
Eu sinto ainda o contacto ideal das açucenas
E escuto ainda esses sons, como gorjeios de ave.

Acácio Antunes
Acácio Antunes, de seu nome completo, Acácio Graciano Antunes Brás, nasceu na Figueira da Foz em 26 de Agosto de 1853 e faleceu em Lisboa a 2 de Abril de 1927.
A sua primeira obra foi a peça “A Embaixatriz”. Foi poeta, escreveu imensas peças teatrais, e o poema “O Estudante Alsaciano” tornou-se um dos seus trabalhos mais conhecidos. A Câmara Municipal da Figueira da Foz homenageou a sua memória, colocando o seu nome numa das artérias citadinas.


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ruy Belo

E tudo era possível
.
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
.
Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
.
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
.
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
.
Ruy Belo

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Frei Hermano da Câmara

Minha Mãe nasci fadista
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Minha Mãe, nasci fadista,
Mora fado no meu peito,
Não se canse, não insista,
Não há ninguém que resista
Quando vive satisfeito.
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Não lhe dê maior cuidado
Este modo de cantar,
É meu Destino marcado
Quando sofro canto o fado,
Antes isso que chorar.
.
Fado é triste, solidão,
Fado existe em todos nós.
Cantar fado é meu condão,
É dar fala ao coração
E dizer com esta voz:
.
A cantar vivo contente,
Tenho a vida que Deus quis.
Quando o fado é permanente
Dá tristeza a quem o sente
Mas quem o canta é feliz.
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Frei Hermano da Câmara
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"O grande amor à música e em especial ao fado, vai levar o jovem D. Hermano Cabral da Câmara a juvenis fadistadas com seus irmãos. Tal não é de admirar, havendo ele nascido, em 1934, numa família de aristocratas e fadistas.
Grava o seu primeiro disco no circuito comercial em 1959, Sunset and Sentimental, onde se encontram temas ainda hoje conhecidos, como Colchetes de Oiro.
Rapidamente a sua voz, muito particular, conquistará o coração de inúmeros fãs.
Com 27 anos decide, bruscamente, tornar-se monge beneditino. Desta resolução nasce o mítico Fado da Despedida.
Ao longo dos anos, e com a abertura proporcionada pelo Concílio Vaticano II, Frei Hermano da Câmara voltará a gravar temas, marcados pela sua vocação religiosa, onde a sua voz continua a revelar o fulgor que o distinguiu."

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

José Régio

CRISTO
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Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...
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Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
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A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
.
Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
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José Régio
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José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901, aí falecendo em 22 de Dezembro de 1969.
Como escritor, José Régio, dedicou-se ao ensaio, à poesia, ao texto dramático e à prosa.
José Régio é considerado um dos grandes vultos da literatura portuguesa, e recebeu, em 1966, o Prémio Diário de Notícias e, em 1970, o Prémio Nacional da Poesia.
Um dos seus poemas mais conhecidos é o célebre "Cântico Negro": "(...) Não sei por onde vou,/Não sei para onde vou,/- Sei que não vou por aí!"
As suas casas em Vila do Conde e em Portalegre foram transformadas em casas-museu.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

António Gedeão

Pedra Filosofal
.
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
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Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
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Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.
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ANTONIO GEDEÃO
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António Gedeão, pseudónimo de Rómulo vasco da gama de carvalho, nasceu em 1906. Acabou, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de professor. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).Mostrou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. Morreu em 1997.
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Nota: Por lapso (agradeço a chamada de atenção do meu visitante e amigo, Silva Cascão) publiquei, anteriormente, a fotografia de Urbano Tavares Rodrigues como sendo a de António Gedeão. Tal falha deveu-se a ter trocado a foto com a do autor de um artigo sobre o poeta. Penitencio-me e reitero o meu agradecimento a Silva Cascão que, como referiu em comentário, estava correcta a que publiauei em PRESENTE.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bruno Tolentino


MECANISMOS
Havia um azul sereno
naquele roxo florindo,
o jardim dava no tempo
e o tempo passava rindo.
É tudo de que me lembro.
Quase nada do que sinto.
Deu-se a flor ao pensamento
entre a memória e o instinto.
O mais é aquilo que invento,
as músicas que mal digo,
orvalhos que ficam sendo
daquele jardim antigo.
.
Bruno Tolentino
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Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, foi um poeta brasileiro, nascido no Rio de Janeiro a 12 de Novembro de 1940 e falecido em São Paulo em 27 de Junho de 2007).
Nascido numa tradicional e rica família carioca, conviveu desde criança com intelectuais e escritores como Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
.
Escreveu, entre outras, as seguintes obras: "Anulação e outros reparos", "Le vrai le vain", "About the hunt", "As horas de Katharina", "Os deuses de hoje", "Os sapos de ontem", "A balada do cárcere", "O mundo como Ideia" e "A imitação do amanhecer".

terça-feira, 3 de novembro de 2009

José Gomes Ferreira


Morrer

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados,
fartos do mesmo sola fingir de novo todas as manhãs,
convocaríamosos amigos mais íntimos
com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer:
"Fulano de tal comunica a V. Exa.
que vai transformar-se em nuvem
hoje às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente,
com passos de reter tempo,
fatosescuros, olhos de lua de cerimónia,
viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes.
Ternura de calafrio."Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho,
sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer,
começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?)
— nesta tarde de Outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
.
José Gomes Ferreira
.

José Gomes Ferreira nasceu no Porto em 9 de Junho de 1900.
Licenciou-se em Direito, e posteriormente foi Cônsul na Noruega. Paralelamente, seguiu também carreira como compositor, chegando a ter a sua obra "Suite Rústica" estreada pela orquestra do maestro figueirense David de Sousa.
Ganhou em 1961 o Grande Prémio da Poesia instituído pela Sociedade Portuguesa de Escritores, instituição de que viria a ser Presidente e foi condecorado pelo Presidente da República Ramalho Eanes com a comenda da Ordem Militar de Santiago de Espada, recebendo posteriormente o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade.
Faleceu em 8 de Fevereiro de 1985.

sábado, 17 de outubro de 2009

ISAURA MATIAS DE ANDRADE

Melopeia diabólica
.
Por Deus, ó Vento, serena:
Causam-me dó as ramadas;
só tu não sabes ter pena
das pobres folhas, coitadas!
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E roubas aos passarinhos
casa e sombra, o abrigo amado,
não lhes respeitas os ninhos!...
Estragas tudo, malvado!
.
Já namoraste essa rama,
folhas que arrancas sem dó
para lançá-las na lama,
para arrastá-las no pó!...
.
Curvam-se os caules novinhos
tremendo de encontro ao chão...
Deixa-os ficar, coitadinhos,
deixa-os viver, furacão.
.
Os velhos troncos, lascados,
não tremem ao teu soprar:
Dizem, caindo aos bocados;
"Antes assim que vergar..."
.
Às casas de telha vã,
fazes voar os telhados,
para a chuva, tua irmã,
ir ao lar dos desgraçados!...
.
Quem te viu tão brando e doce,
quando eras brisa somente!
Tinhas tu o que quer que fosse
que afagava toda a gente.
.
Nas tardes quentes de Agosto
- nunca tal bem me esqueceu -
lembravas, dando em meu rosto,
hálitos de anjos do Céu!
.
Agoras brames iroso,
devastas tudo a correr;
és um doido furioso
que ninguém pode prender!...
.
Chamas a ti as procelas
e atacas qualquer abrigo:
Atiras portas, janelas...
Não pára nada contigo.
.
Cessa a louca galopada,
não me açoites mais a vida;
deixa a minha alma, coitada,
por tanta dor sacudida!...
.
Isaura Matias de Andrade
(Do livro "Sinfonia da Terra", publicado em 1943, numa edição da Livraria Editora EDUCAÇÃO NACIONAL - Porto)
.
Foi uma colaboradora assídua de O FIGUEIRENSE e DEFESA DA BEIRA (ambos jornais fundados por meu tio, Joaquim Gomes d'Almeida).
Autora de diversos livros de poemas, entre os quais Chão de Flores (1036), Malvas do Meu Jardim (1940) e Edifício de Sonhos (1942), era natural de Sinde - Tábua (Beira Alta) e faleceu em Buarcos - Figueira da Foz.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os barcos da descrença

Além no mar
Passam barcos de descrença,
E as nuvens choram ao vê-los,
Mas ignoras o azul
Com que o astro resplandecente
Há pouco te bafejava.
Essas lágrimas reflectem
Cenários de ondas gigantes
Onde navios sombrios
Mais perto estavam do Céu.
Porque o azul não vem de ti
Mas nasce lá nas alturas.
Sem ironia,
Não és assim tão gigante.

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Aníbal José de Matos, do livro em construção, "TANTOS ANOS"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Amália

Grito
.
Silêncio

Do silêncio faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
De sombra a sombra
Há um céu tão recolhido
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido
Ao céu
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás d'ela
E eu
A quem o céu esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora
.
Solidão

Que nem mesmo é inteira
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura
Ai solidão
Quem fora escorpião
Ai solidão
E se mordera a cabeça
Adeus
Já fui p'r'além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede
Adeus
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai como dói
A solidão quase loucura
.
Amália Rodrigues

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Amália da Piedade Rodrigues, nasceu em Lisboa em data por determinar, (1 ou 23 de Julho de 1920), aí falecendo em 6 de Outubro de 1999 (completam-se hoje 10 anos) Foi uma fadista, cantora e actriz portuguesa, considerada o exemplo máximo do fado, comummente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Está sepultada no Panteão Nacional, entre outros portugueses ilustres.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Quadrilha
.
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
.
Carlos Drummond de Andrade
.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (Minas Gerais), em 31 de Outubro de 1902, falecendo no Rio de Janeiro a 17 de Agosto de 1987.
Licenciado em Farmácia, fundou, com Emílio Moura e outros companheiros, "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil.
Durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até ao seu falecimento, 12 dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crónicas.
É uma referência no Brasil e no meio poético mundial.

domingo, 20 de setembro de 2009

Aníbal José de Matos

Desejo

Adensa-se a bruma nos meus olhos
Mas ainda te vejo nos meus sonhos.
Abraço-te na penumbra do espírito
Toldado pela mágoa da saudade.
Corro ao desafio com as águas
Em que se afundam as ideias
Das brandas madrugadas,
Em que as pegadas do desejo
Se fundiram nas areias movediças.
Quero ver-te mas só o sonho me conduz.
Quero tocar-te,
Mas as minhas mãos esfumam-se
Entre a neblina que te esconde.

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Do livro em preparação "TANTOS ANOS"

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Miguel Torga

M ã e

Mãe:


Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
.
Miguel Torga

terça-feira, 25 de agosto de 2009

António Pedrosa Bacelar

A umas saudades

Saudades de meu bem, que noite e dia
A alma atormentais, se é vosso intento
Acabardes-me a vida com tormento,
Mais lisonja será que tirania.

Mas, quando me matar vossa porfia,
De morrer tenho tal contentamento,
Que em me matando vosso sentimento,
Me há-de ressuscitar minha alegria.

Porém matai-me embora, que pretendo
Satisfazer com mortes repetidas
O que à beleza sua estou devendo.

Vidas me dai para tirar-me vidas,
Que ao grande gosto com que as for perdendo
Serão todas as mortes bem devidas.
.
António Barbosa Bacelar (1610-1663) nasceu em Lisboa de uma família remediada, frequentando o Colégio de Santo Antão e indo depois estudar Direito para Coimbra. Tendo-se dedicado à magistratura, foi corregedor em Castelo Branco, provedor em Évora, desembargador no Porto e magistrado na Casa da Suplicação em Lisboa. A par do trabalho no âmbito da justiça, dedicou-se à escrita, nomeadamente à historiografia e à poesia. Dentro da historiografia, escreveu a Relação Diária do Sítio e Tomada da Forte Praça do Recife, publicada em Lisboa em 1654, a Relação da Vitória que Alcançaram as Armas do Muito Alto e Poderoso Rei D. Afonso VI, em 14 de Janeiro de 1609, Uma e Outra Fortuna do Marquês de Montalvor, D. João de Mascarenhas e a Vida de D. Francisco de Almeida. A sua obra poética está essencialmente publicada na Fénix Renascida.
(In Projecto Vercial)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Miguel Torga

Poema Melancólico a não sei que Mulher

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram.
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido.
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão.

Miguel Torga


Escritor português natural, de São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, Vila Real, onde nasceu a 12 de Agosto de 1907, faleceu em 17 de Janeiro de 1995. De seu nome completo Adolfo Correia da Rocha, adoptou o pseudónimo de Miguel Torga (Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica:
Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo. A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.
Proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941.



terça-feira, 28 de julho de 2009

Camões, grande Camões

Camões
.
Pátria, querida pátria, se algum dia,
tu, que altiva já foste grande e nobre,
o teu baixel d’encontro à penedia
da sórdida cobiça, enfim soçobre,

calquem-te, embora, ó pátria, os verdes louros,
teu nome surgirá grande, imortal,
que o canto de Camões há-de aos vindouros
bradar contínuo: aqui foi Portugal!

Maximiano Ricca (autor de Lyricas – 1903), in "Camões, grande Camões...", livro cuja capa reproduz um quadro da autoria do figueirense António Augusto Menano.
Trata-se duma obra editada pela UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, com introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho, de que possuo um exemplar oferecido no Natal de 2004, pelo autor (António Augusto Menano) das ilustrações que compõem o livro, cuja primeira edição data de 10 de Junho de 2002.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Victor Hugo

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono.
Para a mulher, um altar.
O trono exalta.
O altar santifica.

O homem é o cérebro; a mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz; o coração produz Amor.
A luz fecunda.
O Amor ressuscita.

O homem é forte pela razão.
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence.
As lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos.
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece.
O martírio sublima.

O homem tem a supremacia.
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força.
A preferência representa o direito.

O homem é um génio; a mulher, um anjo.
O génio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.

A aspiração do homem é a suprema glória.
A aspiração da mulher é a virtude extrema.
A glória faz tudo grande.
A virtude faz tudo divino.

O homem é um código.
A mulher, um evangelho.
O código corrige.
O evangelho aperfeiçoa.

O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter no crânio uma larva.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano.
A mulher um lago.
O oceano tem a pérola que adorna.
O lago, a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.

O homem é um templo.
A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos.
Ante o sacrário nos ajoelhamos.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
E a mulher onde começa o céu.

.
Victor Hugo
.


Victor Hugo, poeta, romancista e dramaturgo (1802-1885), é considerado o mais notável escritor romântico francês.
Autor, entre outras obras, de Nossa Senhora de Paris e Os Miseráveis.

sexta-feira, 17 de julho de 2009


Olhei para o espelho e vi-me só.
A minha solidão reflectiu-se
Neste pedaço de vidro transparente.
Mas , afinal, que vejo eu?
Não é um espelho, é uma parede
Que me faz ficar mais só, mais isolado.
Já nem a mim me vejo.
Não solidifiquei nem liquefiz,
Mas já nem a minha sombra me dá amparo.
Porque o Sol quer fugir da minha vida.
.
Mas ainda acredito no alívio
De que volto a viver os que vivi.
... E então não estarei só.
.
Aníbal José de Matos (do livro em construção "TANTOS ANOS"

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dylan Thomas

A MÃO AO ASSINAR ESTE PAPEL
.
A mão ao assinar este papel arrasou uma cidade;

cinco dedos soberanos lançaram a sua taxa sobre a respiração;
duplicaram o globo dos mortos e reduziram a metade um país;

estes cinco reis levaram a morte a um rei.

A mão soberana chega até um ombro descaído
e as articulações dos dedos ficaram imobilizadas pelo gesso;
uma pena de ganso serviu para pôr fim à morte
que pôs fim às palavras.

A mão ao assinar o tratado fez nascer a febre,
e cresceu a fome, e todas as pragas vieram;
maior se torna a mão que estende
o seu domínio sobre o homem por ter escrito um nome.

Os cinco reis contam os mortos
mas não acalmam a ferida que está cicatrizada,
nem acariciam a fronte;

há mãos que governam a piedade como outras o céu;
mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar.
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Dylan Thomas
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(tradução: Fernando Guimarães)
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"Dylan Marlais Thomas nasceu em Swansea, no País de Gales, a 27 de outubro de 1914. Considerado um dos maiores poetas do século XX em língua inglesa, juntamente com W.Carlos Williams, Wallace Stevens, T.S. Eliot e W.B. Yeats.
Dylan Thomas teve uma vida muito curta, devido a exagerada boémia que o levou ao fim de seus dias aos 39 anos, mas ainda teve tempo de nos deixar um legado poético que o tornou um dos maiores influenciadores de toda uma geração de escritores."
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Ontem, tive a feliz oportunidade de assistir, no CAE da Figueira da Foz, ao filme "No Limite do Amor", realizado por John Maybury, uma película que assenta em notas biográficas do poeta. "O filme descreve a sua vida, mas sobretudo a complexa relação de amor e ódio com a sua esposa Caitlin, a amiga de infância Vera Philips e o marido desta, William Killick".

sábado, 4 de julho de 2009

ANTÓNIO NOBRE

Aqui, sobre estas águas cor de azeite,
cismo em meu Lar, na paz que lá havia:
Carlota, à noite, ia ver se eu dormia
e vinha. de manhã, trazer-me o leite.

Aqui, não tenho um únito deleite!
Talvez-... baixando. em breve, à Água fria,
sem um beijo, sem uma Avé-Maria,
Sem uma flor, sem o menor enfeite!

Ah pudesse eu voltar à minha infância!
Lar adorado, em fumos, a distância,
ao pé de minha Irmã, vendo-a bordar;

Minha velha Aia! Conta-me essa história
que principiava, tenho-a na memória,
"Era uma vez..."
Ah deixem-me chorar!
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António Nobre
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António Pereira Nobre, nascido no Porto em 16 de Agosto de 1867 e falecido na Foz do Douro (Porto), em 18 de Março de 1900, apenas com 32 anos), mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista, decadentista e saudosista (interessada na ressurgência dos valores pátrios) da geração finissecular do século XIX português. A sua principal obra, "Só" (Paris, 1892), é marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjectivismo, mas simultaneamente suavizada pela presença de um fio de auto-ironia e com a rotura com a estrutura formal do género poético em que se insere, traduzida na utilização do discurso coloquial e na diversificação estrófica e rítmica dos poemas.
Apesar da sua produção poética mostrar uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas e um outro mais coloquial, reflexo da sua infância junto do povo nortenho. Faleceu com apenas 32 anos de idade, após uma prolongada luta contra a tuberculose.
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Fonte: Wikipédia

Manuel Guimarães

Ó Santa dos meus olhos, que partiste,
O teu menino aqui te vem contar
A sua mágoa imensa de ser triste
E já não ter ninguém por quem chamar.

Andam p’ra aí as horas que remiste
Como apagadas velas de um altar,
E no lugar de bem donde saíste
Vivem mágoas de anjos a magoar.

E a balada dos anjos, a abalada
Minha sombra de ti, me deixa traços
E fala dos teus olhos… madrugada

Que eu hei-de ver na esteira dos meus passos:
Não ande aí, ceguinho, pela estrada,
Noite de trevas, estendendo os braços.

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Manuel Guimarães (do livro MEU SABOR DE MENINO, dedicado a sua mãe, em 1974).
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Manuel de Jesus Ferreira Guimarães, nasceu na Figueira da Foz em 12 de Agosto de 1916, falecendo em Lisboa a 19 de Outubro de 1992.
A propósito do poeta, escreveu António de Sousa Freitas: “Manuel Guimarães nasceu na Figueira da Foz, onde o movimento das ondas é escutado como canção que se desprende e ecoa por toda a cidade numa melopeia constante e cheia de ritmo e saudade. Estudou em Coimbra onde a tradição não é palavra vã e a nostalgia permanece num lirismo quente a insinuar-se na realidade das horas e dos anos. Assim, a poesia de Manuel Guimarães não podia evadir-se a estes desígnios. E quando se evade é naturalmente humana, afável, vagamente dolorosa, real.”

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Manuel Guimarães

Amor Pagão
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Quero ver dos teus olhos, lá no fundo,
a minha pobre imagem reflectida.
Já que sem eles, para mim, o mundo
é uma triste imagem, só, da vida.
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Quero ver nos teus olhos, esbatida,
a ansiosa expressão do meu olhar,
se tendo-te nos braços, soerguida,
muito de manso te quiser beijar.
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Sim, nós havemos de beijar-nos tanto
e sorver desses beijos todo o encanto
num misto de doçura e de desejo...
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Que os nossos beijos, como as nossas vidas,
tenham as nossas bocas sempre unidas
como se fora sempre o mesmo beijo.
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Manuel Guimarães (Manuel de Jesus Ferreira Guimarães), natural da Figueira da Foz (Portugal) onde nasceu em 12 de Agosto de 1916, falecendo em Lisboa a 19 de Outubro de 1992.
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Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia naquela cidade e em Lisboa, onde foi figura relevante no mundo das letras.
Fpo colaborador da Rádio Renascença, editorialista do Correio da Manhã, tendo também colaborado nos jornais da Figueira da Foz, O Figueirense, O Dever, A Voz da Figueira e na revista Álbum Figueirense.
Com Belarmino Pedro fundou, em 1939, a Tribuna Literária, suplemento de O Figueirense.
Autor de diversas obras literárias, destacou-se como poeta, publicando Meu Sabor de Menino, Aquela Hora e a Vida (de que reproduzo a poesia Amor Pagão), Terra do Não Ser e Fogo do Céu.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dia Mundial da Criança

A uma criança
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Tu que és vida!
Que brincas e que ris,
E a tudo que é nada dizes nada!
Tu que saltas e que choras
E ainda ris!
Que lesto corres e saltitas,
Que colhes borboletas e as soltas
P'ra que vivam!
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Que pulas de flor para flor
Em busca das abelhas que são vida!
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Que és alheio à dor e à incerteza,
... Vive!
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Aníbal José de Matos, in ESPERANÇAS (1982)

sábado, 30 de maio de 2009

Sem destino

Vai pelo mar fora em busca do horizonte,
Domina os mares
Galgando ondulações,
Atravessa continentes
E nunca verás o horizonte!
Não são o alfa e o ómega,
Não vais encontrar princípio ou fim,
E retomarás o ponto de partida.
Verás, sim, o que não podes alcançar.
O mal e o bem, esses sim,
Estão a teus pés
E não precisas de sair do teu lugar.

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Aníbal José de Matos, do livro em preparação "TANTOS ANOS"

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ruy Belo

E tudo era possível
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Na minha juventude antes de ter saído
da casa dos meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

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Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
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E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quanto foi isso? Eu próprio não o sei dizer
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Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

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Ruy Belo
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RUIde Moura Ribeiro BELO, nasceu em S. João da Ribeira (Rio Maior), em 27 de Fevereiro de 1933, e faleceu em 8 de Agosto de 1978, apenas com 45 anos, em Monte Abraão (Queluz).
Poeta de reconhecido mérito, escreveu, entre outros, Aquele Grande Rio Eufrates, Boca Bilingue, Homem de Palavra(s), País Possível, Transporte no Tempo, A Margem da Alegria, Toda a Terra e Despeço-me da Terra da Alegria, este livro escrito um ano antes da sua morte.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

José António Matos

Deste licor testemunho,
como quem acorda sem recusar
a luz.
Aprendi nos livros
a posição do cálice, geometria
dos avós. Nasci
para o calor da sede.
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De "No Rigor" (1984).
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José António Neto e Matos, filho de Aníbal José de Sousa e Matos, é figueirense e licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, sendo funcionário do Museu Municipal Dr. Santos Rocha (Figueira da Foz).É autor do livro "Antecâmara", de Editorial Escritor, Ld.ª - Abril de 1998 -

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage, nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765, falecendo em Lisboa em 21 de Dezembro de 1805.
Poeta português de grande prestígio, era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.
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Já Bocage não sou
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Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão a mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
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Como pode ler-se no romance, "Já Bocage Não Sou", de José Jorge Letria, este soneto foi "ditado entre as agonias do seu trânsito final".

sábado, 9 de maio de 2009

Olavo Bilac


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, a 16 de Dezembro de 1865, cidade onde faleceu em 28 de Dezembro de 1918.
Foi jornalista e poeta, sendo membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
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Olhando a corrente
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Põe-te à margem! Contempla-a, lentamente.
Crespa. turva, a rolar. Em vão indagas
A que paragens, a que longes plagas
Desce, ululando, a lúgrume corrente...
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Vem de longe, de longe... Ouve-lhe as pragas!
Que infrene grita, que bramir frequente,
Que coro de blasfêmias surdamente
Rolam na queda dessas negras vagas!
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Choras? Tremes? É tarde... Esses violentos
Gritos escuta! Em lágrimas, tristonhos,
Fechas os olhos?... Olha ainda o horror
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Daquelas águas! Vê! Teus juramentos
Lá vão! lá vão levados os meus sonhos,
Lá vai levado todo o nosso amor!
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Da obra "Poesias" - 7.ª edição - 1921

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Luiz de Aquino


Teus olhos, menina!
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Há nuvens miúdas
brincando no azul degradê
e se achatam por baixo;
eu olhando daqui
com os olhos de ti, Menina
dos olhos bonitos pra mim.
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De noite, há luzes. Pontinhos milhões
polvilhados
na noite de preto
aos olhos meus, Menina dos olhos
que me olham demais
e me vêem tão teu.
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Não são teus os meus sonhos,
Menina dos olhos perdidos:
já tive teus beijos,
nada mais tenho
Nem quero. Somente teus olhos,
Menina dos olhos meus.
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Conheci o poeta Luís de Aquino em Goiânia (Brasil). Corria o ano de 2001. Bancário, professor e jornalista, cedo começou a escrever cartas, poemas e contos.
Passados oito anos sobre a data em que conheci este poeta brasileiro, tenho o prazer de publicar o primeiro dos poemas constantes do livro "MENINA DOS OLHOS", que na altura me ofereceu com dedicatória, um trabalho que li e reli, e que vale pela sua originalidade e conteúdo em que o amor é tema frequente.
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Na primeira imagem, a reprodução da capa de "MENINA DOS OLHOS" (uma pintura de Dinéia Dutra) e na segunda, o autor, num desenho de Valéria Vilela.


segunda-feira, 20 de abril de 2009

LUSCO-FUSCO


Foi ao fim da tarde
Na enseada da noite,
Que descobri que queria
Viver num só dia
O que desperdicei numa vida!
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Descalço de sonhos,
Órfão de sensações,
Tentei pular a cerca
Mas caí no limiar da angústia!
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Aníbal José de Matos (do livro em preparação TANTOS ANOS)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

EMÍLIA MARIA



EVOCAÇÃO
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Pudesse eu sempre assim, nas minhas ter
As tuas mãos profanas de falsário,
E formaria, então, um relicário,
Donde nunca as pudesses desprender.
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Mas eu, agora, só as posso ver,
Num sonho em fictício imaginário…
E só prolongaria o meu calvário
Julgar real o que não pode ser.
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Mas não, não quero. Nunca, meu amor!
Não quero ambicionar esse calor
Com que esqueceste as minhas num instante.
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Era todo meu passado reviver…
De que me serviria as mãos prender
Se o coração vagueia tão distante?!
Presto hoje a minha homenagem a uma poetisa figueirense, que, sobretudo pelos seus sonetos, foi figura marcante na cultura local.
Na segunda imagem, a reprodução dum dos seus originais (de que possuo uma vasta colectânea), e que "traduzo" no texto anterior.
Emília Maria (Emília Maria Bagão e Silva), nasceu na Costa de Lavos (Figueira da Foz), em 16 de Março de 1909, falecendo nesta cidade a 22 de Março de 1979, poucos dias depois de ter completado 70 anos.
Era irmão de João Bagão, guitarrista, compositor da conhecida Balada de Coimbra.
Colaborou em várias publicações, entre as quais a Gazeta de Coimbra (sob o pseudónimo de Mademoiselle X), A Voz da Justiça e O Figueirense.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

ACÁCIO ANTUNES

Passam hoje, como refiro em PRESENTE, 82 anos sobre o falecimento do poeta figueirense, Acácio Antunes.
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A recordar a efeméride, um soneto deste ilustre emblema da cultura figueirense:
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Prólogo (do livro "Da Primavera ao Outono", de 1914 (contava então o poeta, 61 anos):
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Há tempo, ao ler-te uns versos, minha amada,
Em que de amor fazia mil projectos,
De repente, a sorrir, meio amuada,
Disseste-me com ares circunspectos:
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- Estes poetas! Não reservam nada!
São uns incorrigíveis indiscretos,
Contando a toda a gente os seus afectos,
Quanto lhes preza e quanto lhes agrada!
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Eu protestei, que do cristal, tão duro,
Mais através se vê, quanto é mais puro...
Tu, porém, não quiseste conformar-te!
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Submisso, pois, às tuas exigências,
Aqui te deixo,meu amor, à parte,
Para ti só, as minhas Confidências.

quinta-feira, 26 de março de 2009

VISITAS

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Fernando Pessoa


Fotos de Fernando Pessoa
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Poema: O MOSTRENGO
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O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo:
"El-Rei D. João Segundo!"
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De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"
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Três vezes do leme as mâos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse ao fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ate ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!".
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Fernando Pessoa, poeta, de seu nome completo Fernando António Nogueira Pessoa, nascido a 13 de Junho de 1888, em Lisboa, e falecido a 30 de Novembro de 1935.

domingo, 22 de março de 2009

Isaura Matias de Andrade

Isaura Matias de Andrade. Foto de 1953, oferecida pela poetisa a meu Pai, Aníbal Correia de Matos.
Foi uma colaboradora assídua de O FIGUEIRENSE e DEFESA DA BEIRA (ambos jornais fundados por meu tio, Joaquim Gomes d'Almeida). Autora de diversos livros de poemas, dera natural de Sinde - Tábua (Beira Alta) e faleceu em Buarcos - Figueira da Foz.
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A ventura de escrever-te
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Escrever-te é falar a sós contigo.
Ter entre as tuas mãos a minha mão;
Dar largas ao meu pobre coração
Encostada ao teu peito, doce Amigo.
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Escrever-te – quimera que eu bendigo,
Lenitivo fictício da paixão –
E ir a Deus, humilde, em confissão
Chegar ao Céu e ver-te lá comigo.
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Escrever-te é sentir-me nos teus braços
Confiada na pureza dos abraços.
Num arroubo de beijos virginais!...

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Escrever-te … Afinal o meu enlevo
E a ânsia de esquecer que não te escrevo,
Que a mim própria me ilude e nada mais.



Porque hoje é domingo

Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é pensar que tudo é um milagre.
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Albert Einstein

sábado, 21 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia

O Dia Mundial da Poesia foi instituído na 30ª Conferência Geral da Unesco, em 2000.
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Nesta data, presto a minha humilde mas sincera homenagem ao poeta Eugénio de Castro, publicando o seu poema
FRUTO PROIBIDO
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Sonhando-te, num sonho amargo e doce,
Eis que desnuda e virginal te vejo,
Ave, rosa e mulher, perfume e harpejo,
Feliz de mim, se eu teu amante fosse!
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Basta que a tua sombra por mim roce
Para que eu fulja num solar lampejo!
E se num sonho enganador te beijo,
Como um rei, me coroa a tua posse!
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Sonhos... são sonhos! qualquer brisa os leva,
Deixando atrás só desconsolo e treva!
Dos teus beijos eu tenho sede e fome,
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Mas sem nunca os provar, por meus pecados
Contento-me em beijar teu lindo nome,
Se o digo, ébrio de amor, de olhos fechados...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A sesta de Nero

Fulge de luz banhado, esplendido e sumptuoso,
O palacio imperial de porphiro luzente
E marmore da Laconia. O tecto caprichoso
Mostra, em prata incrustrado, o nacar do Oriente.
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Nero no tóro eburneo estende-se indolente...
Gemmas em profusão do estragulo custoso
De ouro bordado vêm-se. O olhar deslumbra, ardente,
Da purpura da Thracia o brilho esplendoroso.
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Formosa ancilla canta. A aurilavrada lyra
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a myrrha da Arabia em rescendente pyra.
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Fórmas quebram, dansando, escravas em choréa...
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nús da lubrica Poppéa.
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(Foi respeitada a ortografia da época)

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Olavo Bilac, do livro “POESIAS”, publicado em 1921 pela Livraria Francisco Alves, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro (Brasil). A oferta da obra que possuo, foi feita pela Livraria Fonseca, de Maceió (Brasil). Este foi o primeiro poema publicado por Bilac.
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Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865, filho de Delfina de Paula e Brás Martins dos Guimarães, médico, que na altura do nascimento do filho era cirurgião do exército brasileiro, servindo na Paraguai.
Depois dos primeiros estudos no Colégio São Francisco de Paula, Olavo Bilac iniciou em 1880 o curso de Medicina (que interrompeu) e o curso de Direito em 1887.
Em 1884 publicou o seu primeiro poema na imprensa, na “Gazeta de Notícias” (jornal carioca) facto que representava toda a glória possível para um candidato a poeta. Era o soneto “A sesta de Nero”, que foi incluído mais tarde no seu primeiro livro “Poesias”, editado em 1888.
Em 1898 foi nomeado inspector do ensino público do Rio de Janeiro.
Reconhecido como grande poeta, tornou-se secretário da Conferência Pan Americana do Rio de Janeiro, em 1906, e secretário do prefeito do Distrito Federal em 1907.
Olavo Bilac viajou à Argentina integrando a comitiva do presidente Campos Sales e foi várias vezes à Europa. Escreveu em quase todas as revistas e jornais importantes do seu tempo e, em 1907, foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”.
Participante activo e requisitado da vida brasileira (e em particular da carioca), Bilac defendia fervorosamente a abolição da escravatura e os ideais republicanos. Jornalista de oposição ao governo de Floriano Peixoto, foi perseguido e chegou a ser preso. Mais tarde, quando solto, exilou-se voluntariamente durante algum tempo em Minas Gerais. Bilac viveu de perto grandes acontecimentos e campanhas: a fundação da Academia Brasileira de Letras (em 1896) de que foi membro fundador, as campanhas cívicas pela instrução e pelo serviço militar obrigatório (iniciadas em 1915) e a fundação da Liga de Defesa Nacional (em 1916), campanhas estas que o levaram a percorrer o Brasil em defesa e propagação dessas ideias.
Ao morrer, em 1918, o seu enterro foi acompanhado por uma enorme multidão
As homenagens póstumas que lhe prestaram, a sua constante evocação em eventos cívicos e a sua presença na produção cultural mais contemporânea sublinham a importância de Bilac para a compreensão da cultura brasileira.
Quando Bilac nasceu, estava acesa a Guerra do Paraguai e quando morreu, morria também a primeira Guerra Mundial.
Olavo Bilac foi uma das mais ricas personalidades da fascinante “bellex époque” à brasileira.
Foi poeta boémio, jornalista polémico, cronista, redactor de anúncios e autor de versos satíricos. Bateu-se em duelos, foi abolicionista, republicano e antiflorianista. Autor marcado pelo extremo rigor na linguagem e na forma, os seus sonetos são compostos em versos decassílabos perfeitos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fraternidade

O homem busca, insistentemente,
A paz perdida num remoto dia.
Mas é em vão; e cada vez mais sente
A sua via inútil e vazia.
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Ainda não quis ver, sempre descrente,
Que no servir e dar é que se cria
A fonte donde milagrosamente
Brota o amor, a paz e a alegria.
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Procurar ver no próximo um irmão,
Servir e amar com todo o coração,
Ver sempre o lado bom das coisas más,
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Só nesse abraço de fraternidade,
A envolver enfim a Humanidade,
Pode encontrar a desejada paz.
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Maria Teresa Biscaia (figueirense)
Nos 75 anos do Rotary Club da Figueira da Foz - 23 de Fevereiro de 1980
 
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