sábado, 23 de julho de 2011

Camilo Pessanha

CREPUSCULAR

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.


CAMILO PESSANHA


Camilo Pessanha (Camilo Almeida Pessanha de seu nome completo), foi um dos mais destacados poetas portugueses, assinando ainda muitos outros trabalhos, como ensaios e traduções. Expoente máximo do Simbolismo, escreveu poemas e sonetos de grande qualidade rítmica e formal.




Estudou direito na Universidade de Coimbra (cidade onde nasceu em 7 de Setembro de 1926) e viveu grande parte da vida em Macau, onde viria a falecer a 1 de Março de 1926.
Apaixonado pela cultura chinesa, fez vários estudos e traduziu poetas chineses. A sua obra influenciou escritores como Fernando Pessoa ou Mário de Sá-Carneiro. Os seus poemas foram reunidos numa coletânea intitulada “Clepsidra”, considerado um dos melhores livros da poesia portuguesa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Amália Rodrigues



Amor de mel, amor de fel

Tenho um amor
Que não posso confessar...
Mas posso chorar
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!

Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!

Foi andorinha
Que chegou na Primavera,
Eu era quem era!
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!

Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!

Fado maior
Cantado em tom de menor
Chorando o amor de dor
Dor de um bem e mal amado!

Amália Rodrigues






Amália Rodrigues foi o nome mais sonante da canção portuguesa, designadamente no fado. Amália nasceu em Lisboa a 23 de julho de 1920, cidade onde viria a falecer em 6 de outubro de 1999.



A artista levou o fado até aos confins do mundo, tendo recebido inúmeras condecorações.



Além de cantadeira, Amália, que também participou em diversos filmes, escreveu ainda alguns inspirados poemas, entre os quais o que aqui reproduzo, que viria a ter em Katia Guerreiro, a grande revelação da chamada canção nacional, uma intérprete de grande nível, fazendo esta sempre questão de afirmar que este fado foi o que a lançou no panorama artístico português.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aníbal José de Matos

Escada das ilusões


Degraus duma escadaria sem nexo
Levam-me ao patamar das ilusões,
Abrem-me a porta do desconhecido
E mostram-me as fantasias do destino
Que atormentam as minhas noites longas.

Indiferentes aos esgares e atropelos
De leis inconcebíveis
Que regem o ordenamento das agruras,
Soltam amarras que algemam
Os insubmissos.

Os degraus despedaçados pelo tempo
Elevam-me ao alto da colina
Onde o sol me aguarda ternamente
E me empresta asas de esperança.


Aníbal José de Matos (Julho de 2011) do livro a publicar LETRA PARA UM FADO
 
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