domingo, 27 de novembro de 2011

FADO, PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE

O fado, a canção portuguesa por excelência, foi elevado pela UNESCO a PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE.
Numa altura em que o país tem poucas razões para se sentir feliz, esta decisão acaba por ser um pequeno bálsamo para para o nosso ego.
Neste momento há que prestar homenagem a quantos, ao longo dos tempos, tiveram a sua preciosa quota parte na evolução desta variante da cultura portuguesa, cabendo aqui, pela natureza deste blogue, uma palavra especial aos poetas, os verdadeiros arquitetos do fado, já que proporcionaram a grandes intérpretes, quer cantores quer músicos, a oportunidade de darem a conhecer ao mundo este valioso património.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Concurso de Literatura




Acabo de receber, com natural satisfação, a notícia (e respetivos diploma e medalha dourada), de ter obtido o 1.º prémio no Concurso Internacional de Literatura em Língua Portuguesa Brasil - Portugal, realizado pela secção de Londrina - Brasil, do Elos Internacional da Comunidade Lusíada.

O prémio foi atribuído ao soneto APELO AO VENTO, que a seguir reproduzo:

APELO AO VENTO

Da praia imensa a brisa te levou
De meus olhos para lá do horizonte,
E as penas que meu peito soluçou
Não vislumbro no mundo quem as conte.

E fui chorando meu choro devagar
Tal como a brisa que te afastou de mim,
E nem aquela força de te amar
Evitou que teu amor chegasse ao fim.

E esse enlevo que despertava madrugadas
E sorria sempre que chegavas
Despertando no meu leito o arrebol,

Não sei se se perdeu com o meu lamento!
Possa a brisa dar lugar ao vento
E que regresses mesmo ao pôr-do-sol.

Aníbal José de Matos

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

3 anos !!!

POESIA COMPLETOU TRÊS ANOS

Foi a 18 de novembro de 2008 que nasceu este blogue, única e exclusivamente dedicado à poesia.
A todos quantos me têm dado o prazer da sua visita, o meu muito obrigado.
Vou fazer os possíveis para incrementar esta página, atualizando-a com maior assiduidade, indo, assim, ao encontro de todos os que são fiéis a este tipo de cultura.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

TOMÁS RIBEIRO


A JUDIA


Corria a branda noite; o Tejo era sereno;
a riba, silenciosa; a viração subtil;
a lua, em pleno azul erguia o rosto ameno
no céu, inteira paz; na terra, pleno Abril.

Tardo rumor longínquo; airoso barco ao largo
bordava áureo listão do Tejo ao manto azul;
cedia a natureza ao celestial letargo;
traziam meigos sons as virações do sul.

Ó noites de Lisboa! Ó noites de poesia!
auras cheias de aromas! esplêndido luar!
vastos jardins em flor! Suavíssima harmonia!
transparente, profundo, infindo, o céu e o mar...

Se a triste da judia ousasse ter desejo
de pátria sobre a terra, aqui prendera o seu
um bosque sobre a praia, um barco sobre o Tejo,
o eleito da minh’alma um coração só meu!...

Corria branda a noite; imersa em funda mágoa
fui assentar-me triste e só no meu jardim:
ouvi um canto ameno! e um barco ao lume d’água
vogava brandamente. A voz dizia assim:

“Dormes? e eu velo, sedutora imagem,
grata miragem que no ermo vi:
dorme - Impossível - que encontrei na vida!
dorme, querida, que eu descanto aqui!

Dorme! eu descarto a acalentar-te os sonhos,
virgens, risonhos, que te vêm dos céus:
dorme, e não vejas o martírio, as mágoas
que eu digo às águas e não conto a Deus!

Anjo sem pátria, branca fada errante,
perto ou distante que de mim tu vás,
há-de seguir-te uma saudade infinda,
hebreia linda, que dormindo estás.

Onde nasceste? onde brincaste, ó bela;
rosa singela que não tens jardim?
Em Jafa? em Malta? em Nazaré? no Egito?...
mundo infinito, e tu sem berço?! oh! sim,

folha que o vento da fortuna impele,
vitima imbele que um tufão roubou!
flor que num vaso se alimenta, cresce,
ri, desaparece, e nunca mais voltou!

Filha dum povo perseguido e nobre,
que ao mundo encobre o seu martírio, e crê:
sempre Ashevero a percorrer a esfera!
desgraça austera! inabalável fé!

porque há-de o lume de teus olhos belos,
mostrar-me anelos d’infinito ardor?
porque esta chama a consumir-me o seio?
Deus de permeio nos maldiz o amor!..

Peito! meu peito, porque anseias tanto?
pranto! meu pranto, basta já, não mais!
é sina, é sina! remador voltemos;
não n’a acordemos... para quê, meus ais?...

Dorme, que eu velo, sedutora imagem,
grata miragem que no ermo vi:
dorme - Impossível - que encontrei na vida!
dorme, querida, que eu não volto aqui!” -

Sumiu-se a barca e eu chorava
debruçada sobre o Tejo:
a aragem trouxe-me um beijo
que nos meus lábios tomei…
ergui-me cheia d’afecto;
vi cintilar ainda a esteira
da barquinha feiticeira,
e disse às auras: “Correi!

trazei-mo! quero contar lhe
o fundo tormento enorme
da judia que não dorme
a penar d’ignoto amor!
Voai! trazei-me o seu nome,
o seu retrato, o seu canto,
uma baga do seu pranto
que venha o meu trovador!…

Ai, não! que há na minha história
que lhe suavize a tristeza?
Nasci na triste Veneza,
onde perdi minha mãe;
acalentaram-me lágrimas
que derramava a saudade,
na desgraçada cidade
que não tem pátria também
Cresci; meu pai uma noite
Disse-me: “É já tempo agora;

ergue-te ao romper da aurora
vamos partir amanhã;
vamos ver as terras santas,
sepulcros de teus monarcas;
a pátria dos patriarcas,
desde o Egipto ao Chanaan,

Fui; corri o mapa imenso
das montanhas da Judeia;
ai pátria da raça hebreia!
ai, desditosa Sião!
que extensos montes sem relva!
que paragens sem conforto,
onde se estende o Mar-Morto
e onde serpeia o Jordão!…

Aqui, de Hemor os vestígios;
de Sife, além o deserto,
longe, o Sinai encoberto;
d’Horeb o morro, ainda além;
deste lado, o Mar Vermelho;
daquele... nada! uns destroços:
ruínas, campas sem ossos,
e, ao fundo, Jerusalém.

Meu pai chorava, e eu chorava,
vendo morta e sem prestígio,
terra de tanto prodígio,
maldita agora de Deus.
Tudo silencioso, estéril
tudo vastos cemitérios
onde ruínas d’impérios
ficaram por mausoléus!

- “Meu pai - disse eu - tenho sede…
-“Vê , filha, a aridez do monte:
só Deus dava ao ermo a fonte
em que bebia Ismael.”
“Pai, cansei; mostra-me a pátria
quero dormir sem receio…,
“Filha, encosta-te ao meu seio,
que não tem pátria Israel….

Em rodo o mundo estrangeiro,
toda a vida peregrina!
Vede se há mais triste sina:
Ser rica e não ter um lar!
Sempre a lenda do Ashevero!
sempre o decreto divino!
sempre a expulsar-me o destino,
como Abraão à pobre Agar!

Que pode valer à hebreia
sentir n’alma chama infinda,
como a linda Ester ser linda
e amada como Raquel?
Se o coração da judia
se entreabre do amor aos lumes
não lhe dá tempo aos perfumes
o seu destino cruel.

Ai, trovador nazareno,
não voltes! tenho receio.
Dizes que é Deus de permeio?
não, blasfemaste: Deus, não.
Pôs o mundo esse impossível
entre o desejo e a ventura;
o amor chama-lhe — loucura,
e o preconceito razão

Deus é Deus, e um só existe;
cego é o mundo, e vária a crença;
mas esta cúpula imensa
é teto de todos nós:
este ambiente que respiro,
da lua e do sol os brilhos,
hão-de ser de nossos filhos,
foram de nossos avós.

Mas se a crença nos separa
e o mundo exige o suplício,
dê-se o amor em sacrifício,
deixando se o pranto à dor;
eu, cerro o peito à ventura;
tu, esmaga o teu desejo;
não mais virei junto ao Tejo...
não voltes mais, trovador!

Tomás Ribeiro

Tomás António Ribeiro, de seu nome completo, nasceu em Parada de Gonta (Tondela), a 1 de julho de 1931, falecendo em Lisboa a 6 de fevereiro de 1901. Escritor, político e poeta, foi figura destacada no seu país (Portugal). Formado em Direito pela Faculdade de Coimbra, exerceu a advocacia em Tondela (distrito de Viseu), onde foi presidente da câmara, sendo por essa localidade eleito deputado em 1862.
Foi governador civil do Porto e de Bragança, e, entre outros cargos, foi ministro da Marinha, da Justiça, do Reino e das Obras Públicas e representante de Portugal no Brasil.
É patrono dum prestigiado colégio de Tondela.
Como poeta, tornou-se muito popular, escrevendo várias obras, destacando-se o poema A JUDIA, que data de 1864, e que hoje tenho o prazer de publicar.

sábado, 12 de novembro de 2011

Filipa Duarte

Filipa Duarte, hoje na Figueira da Foz


Pelas 16 horas, é hoje apresentado, numa das salas da Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, na Figueira da Foz, o mais recente livro da poetisa Filipa Duarte, natural de Tondela, intitulado SEDUÇÃO E UTOPIA.
A apresentação está a cargo do jornalista e poeta figueirense Aníbal José de Matos (autor deste blogue).
Reproduzo, a seguir, uma das poesias contidas na obra:

Onde estás?

Sol, que brilhas no espaço,
Onde estás que não te vejo?
Tenho sede de um abraço
Morro de fome de um beijo!...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Aníbal José de Matos


Sobreviver

(No dia do meu 76.º aniversário)

Longas são as noites,

Curtas as madrugadas,

Caóticos os dias.

Mas os sonhos surgem tarde,

Os pesadelos são velozes

E traem as ilusões.

Sobreviver é preciso,

Fundir a alma no imprevisto

E derrubar os fantasmas.

Sem apelo nem agravo,
Urge empurrar os indecisos

Para estradas sem abismos.


O pensamento alonga-se

Nas enxurradas da vida,

E o vento sussurra nas entranhas

Das imprecisões.

Olhar em frente

Requer cuidados intensivos.


Aníbal José de Matos (9.11.2011)

sábado, 5 de novembro de 2011

JOÃO DE LEMOS




As Rosas de Santa Isabel

Onde ides, correndo asinha,
Onde ides, bela Rainha,
Onde ides, correndo assim?
Porque andais fora dos Paços?
Que peso levais nos braços?
Oh! Dizei-mo agora a mim?...

A Santa, regalos novos,
Frutas, pão, e carne, e ovos,
No regaço e braços seus,
Sem cuidar ser surpreendida,
Ia levar farta vida
Aos pobrezinhos de Deus.

Coram-lhe as faces formosas,
E responde:- "Levo rosas..."
Dom Dinis deitou-lhe a mão,
Ao regaço, de repente;
Mas de rubra cor vivente
Só rosas lá viu então!...

Como o tempo era passado,
Nos jardins, no monte e prado,
De rosas e toda a flor,
El-rei, cheio de piedade,
Nas rosas da caridade
Viu a bênção do Senhor!

E daquele rosal dela
Tirando uma rosa bela,
Que guardou no peito seu,
Disse-lhe:- "Em paz ide agora,
Que eu me encomendo, Senhora,
À Santa, ao Anjo do Céu."


João de Lemos
João de Lemos Seixas Castelo Branco, de seu nome completo, foi um escritor português natural do Peso da Régua, onde nasceu em 6 de maio de 1819, falecendo em Maiorca (Figueira da Foz), na sua Quinta de Anta, em 16 de janeiro de 1890.
Era formado em Direito pela Universidade de Coimbra.
Foi autor de obras de cariz político, dramas, memórias e, principalmente, poesia.
Assinou, entre outros livros poéticos, Cancioneiro (três volumes), Canção da Tarde, O Monge Pintor, Serões da Aldeia e O Tio Damião.
 
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