segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Albeniz Clayton



Ícaro e eu

Voando
Ele me oferece
Oferecendo-se de longe
Algo, leve, invisível
E voa

Vendo-o desaparecer
Nas nuvens
Brumas dos meus sonhos
Vou tateando sombras
Pressinto a queda
Iminência de um amor

Ele se salva
Homem
Salvando-me do salto ao vazio
Retém meus pés
Cala a minha mente
Ocupando a minha boca
Com o seu idioma
Tranquilizando as minhas asas
Desaparecendo nos seus braços
Unifico-me
Em músculos encontrados
Em pleno céu
Transformo-me no que ele representa
E
Suspiro
Transpirando
Pele
Ele
Pulmão
Estamos
Os dois
Loucos
E esta loucura nos une num nó
Porque eu sou ele
Eu sou
Irreal ou real
O voo consentido pelo pai

A fantasia nos salva
E os outros
Quando nos chamam
Utilizam um só nome

Ícaro
Amor
E nós
Dois num
Olhamos
E tão assim mesmo
Voo
Voamos até a queda prometida

Ainda o sinto, longe
Mas dentro
Naquele céu sem deuses e castigos
Nosso
De um lado da noite
Vamos

Ainda vamos
Sonhando alto
De noite
E a lua clareia, fria
Aquece
Sem derreter
Os sonhos

E reinamos

E ele vai caindo dentro de mim
E o tenho no fundo do estômago
Depois da curva do coração
Atravessando as vísceras
Eu o tenho dentro
Bem no fundo da queda

O amor é uma ambição como outra qualquer.

ALBENIZ CLAYTON

O autor nasceu no Rio de Janeiro (Brasil) em 1967, iniciando estudos de artes plásticas na Fundação Escola Guignard em Belo Horizonte (Brasil). Em 1990, deixa o país e inicia uma viagem por Espanha e Marrocos, naturalizando-se espanhol. Frequenta o curso de Filologia Portuguesa na Universidade de Barcelona e recebe a bolsa ERasmus (2000-2001) para estudar Literatura e Tradução na Universidade de Sorbonne – Paris.

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