Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase a bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.
Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa). Fernando Pessoa, de seu nome completo Fernando António Nogueira Pessoa, foi o maior poeta português do século XX. Nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1888 e faleceu na mesma cidade em 30 de novembro de 1935. Nascendo no dia de Santo António (Fernando de Bulhões), foi-lhe dado o nome de Fernando e de António. Utilizou vários heterónimos, sendo os mais conhecidos os de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. MENSAGEM foi, talvez, a sua obra mais conhecida mas a sua produção foi muito vasta.
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