sábado, 7 de janeiro de 2012

Fernando Pessoa


Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda

Que já bebeu na vida,

Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.


Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,

Ele sabe que a vida

Passa por ele e tanto

Corta à flor como a ele

De Átropos a tesoura.


Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,

Que o seu sabor orgíaco

Apague o gosto às horas,

Como a uma voz chorando

O passar das bacantes.


E ele espera, contente quase a bebedor tranquilo,

E apenas desejando

Num desejo mal tido

Que a abominável onda

O não molhe tão cedo.


Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa). Fernando Pessoa, de seu nome completo Fernando António Nogueira Pessoa, foi o maior poeta português do século XX. Nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1888 e faleceu na mesma cidade em 30 de novembro de 1935. Nascendo no dia de Santo António (Fernando de Bulhões), foi-lhe dado o nome de Fernando e de António. Utilizou vários heterónimos, sendo os mais conhecidos os de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. MENSAGEM foi, talvez, a sua obra mais conhecida mas a sua produção foi muito vasta.

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