quinta-feira, 25 de março de 2010

Ary dos Santos


Mãe solteira

Tive um filho que era teu, mas quando me abandonaste
O filho ficou só meu, fruto apenas duma haste
Por ele passei as passas que ninguém há-de passar
Andei ruas, corri praças, e o meu filho por criar

Lá porque sou mãe solteira não me atirem o desdém
Amei de muita maneira, com amor de pai também
Fui operária do meu corpo, mulher homem a lutar
Eu não quis um filho morto, e o meu filho sabe andar

Sabe andar de pés no chão
Com o ar de quem perdoa
A um pai que disse não
Porque o não já não magoa;
A mulher que eu soube ser
Foi pelo filho que tive
E agora, o que acontecer
É porque o meu filho vive

Se tu hoje queres voltar sou eu que digo que não
Eu também lhe soube dar a força que os homens dão
Mãe solteira, mas inteira, mulher que soube parir
Tu não estás á minha beira, e o meu filho sabe rir.
Ary dos Santos

José Carlos Ary dos Santos, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937, onde faleceu a 18 de Janeiro de 1984.
Poeta, escfreveu mais de 600 poemas para canções, vencendo, com pseudónimo, Festivais da Canção da RTP com “Desfolhada” e “Tourada”.
À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado “As Palavras das Cantigas”, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos 15 anos, e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada.
O poema que transcrevo, foi, musicado por Nuno Nazareth Fernandes, uma das melhores interpretações de fadista Maria Armanda.

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