sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aníbal José de Matos


Rio Mondego

Corres na minha mão,
Deslizas no meu olhar!
És eterno, mesmo
Quando morres no Oceano!

Vindo alto da serra
Ousam travar-te no caminho…
Não ligues a quem ousa
Impedir o teu percurso.

Abraças campos e flores!
E sabes a sal
Antes de mergulhar
Na Foz dos teus desejos!

Aníbal José de Matos (6 de Março de 2010)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Jorge Henrique Vieira Santos


Enquanto a mão tece o poema

Enquanto a mão tece o poema
outra cena acontece,
obscena.

Mas não
é obscena
a prece que se tece
entre os dedos do poema.

Entretanto,
entretece
o olho e a pena.

A cena,
que acontece
obscena,
ao mesmo olho acena
esse poema.

Jorge Henrique Vieira Santos

É natural de Nossa Senhora da Glória – Sergipe – Brasil. Licenciou-se em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, especializando-se em Língua Portuguesa pelo IBEPEX/FACINTER.
É autor do livro de poesia MUTANTE IN SANIDADE. Tem contos e poemas publicados em diversas antologias.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Embarque em Sobressalto


Está marcado para o dia 12 de Junho (18 horas) o lançamento do meu livro "EMBARQUE EM SOBRESSALTO", (editado pela FOLHETO) que terá lugar no auditório municipal da Figueira da Foz (Museu e Biblioteca).
Todos os meus visitantes estão, desde já, convidados.
Voltarei "à carga" oportunamente.

domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril

A "revolução" do 25 de Abril
(em Portugal)
aconteceu há 36 anos !!
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
.
Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 24 de abril de 2010

João Roiz de Castel-Branco

Cantiga Sua Partindo-se

Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte tão desejosos
Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castell-Branco

Ignoram-se as datas precisas de nascimento e morte de João Roiz de Castell-Branco, mas é seguro afirmar que este homónimo de Amato Lusitano terá vivido entre finais de Quatrocentos e as primeiras décadas do séc.XVI. Fidalgo da Casa Real de D.Manuel (e, por morte deste, de D.João III), chegou a desempenhar o cargo de contador da fazenda da Beira, para o qual foi nomeado em 1515.
A obra poética de João Roiz de Castell - Branco, hoje conhecida, resume-se a quatro composições incluídas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.
In: BIBLOS - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa - 1995

quarta-feira, 21 de abril de 2010

João Maria Ferreira


O meu relógio

No meu relógio, que supunha amigo
em vão contar as horas boas tento;
porém ele infiel, meu inimigo,
as horas más me dá com fero intento.

Contá-las para quê se tantas são
que o conto lhe perdi há tempo infindo
desde que este meu triste coração
era menino e moço, alegre e lindo.

Nesse passado de ouro, encantador,
meu relógio era então me bom amigo,
horas boas me dava: horas de amor,
horas de paz e sonho, que bem-digo.

Tudo passou, porém, nada ficou
senão doce lembrança do passado,
que, triste, a recordar na vida vou
num sonho pungitivo, magoado.

E agora raramente conto alguma
hora boa que dês, relógio amigo,
e esta é raio de sol por entre a bruma,
momento bom em que sonhar consigo.

João Maria Ferreira- Monte Estoril - 1921
Do livro CREPÚSCULOS.
João Maria Ferreira escreveu, entre outras obras, Jesus de Nazaré, Excelsa, Marquês de Pombal, Trovas para o Povo, Tristezas, Hino à Primavera, Oásis, Horasde Silêncio e Crepúsculos.
O livro CREPÚSCULOS foi editado por J. Rodrigues & C.ª - Editores, em 1928, com o preço de capa de 6$00 (3 cêntimos na moeda actual).




Joaquim Soares Duarte


Meu Portugal

Meu Portugal velhinho,
Tantos anos passados, tantos
Tiveste heróis e santos!
Homens duma palavra só
Duma honradez total
Mas... agora!
Oh! Portugal!
Só te dão enganos.
Voltando costas
Ao teu glorioso passado!
Em cada dia,
São tantos os vendilhões
De antanho!
Se um João de Castro voltasse...
E um Egas Moniz?...
(meu Portugal velhinho
Não diz
Nada, não diz?)
Oh! meu Portugal velhinho!
O que vejo e sinto
Mudará?
Não perdes a esperança?
O bom povo aguardará
Por tal mudança,
Já basta, meu velhinho.

Joaquim Soares Duarte

O autor é natural da Nazaré, tendo trabalhado como radialista em Goa, Guiné, Lisboa, Coimbra. Batalha, Nazaré e Leiria.´Editou o livro de poesia "Pedaços de Vida", tendo recebido diversas distinções culturais.In "II Antologia de Poetas Lusófonos"

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Olavo Bilac


A Bocage

Tu, que no pego impuro das orgias
Mergulhavas ansioso e descontente,
E, quando à tona vinhas de repente,
Cheias as mãos de pérolas trazias;

Tu, que do amor e pelo amor vivias,
E que, como de límpida nascente,
Dos lábios e dos olhos a torrente
Dos versos e das lágrimas vertias;

Mestre querido! Viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto:

E enquanto houver num canto do universo
Quem ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba, chorando, traduzir no verso.

Olavo Bilac

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro (Brasil), em 16 de Dezembro de 1865, cidade onde faleceu a 28 de Dezembro de 1918. Jornalista e poeta, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
Já aqui fiz, oportunamente, larga referência a este poeta de grande projecção no Brasil e não apenas.

domingo, 18 de abril de 2010

Aníbal José de Matos


Impotentes

Uma barreira na estrada,
Um entrave no percurso,
Querem travar o meu caminho
E cortar as asas do meu voo.

Retiram-me os degraus da escada
E arremessam-me fantasmas
Em doses doloridas.

Defendo-me de pé
Como as árvores,
Mas despedaçam-me os ramos
Onde as flores não desabrocham.

Tentam evitar
Que mostre a minha alma
E lhes descubra os segredos
Ocultos em sombras de negrume.

Mas o resistir é a força
Dos que não adormecem
Nas madrugadas.

Aníbal José de Matos, 17.4.2010

sábado, 17 de abril de 2010

Inácio José de Alvarenga Peixoto


Ao mundo esconde o Sol


Ao mundo esconde o Sol seus resplendores
E a mão da noite embrulha os horizontes;
Não cantam aves, não murmuram fontes,
Não fala Pã na boca dos pastores,

Atam as ninfas, em lugar de flores,
Mortais ciprestes sobre as tristes frontes;
Erram, chorando, nos desertos montes,
Sm arcos, sem aljavas, os Amores.

Vénus, Palas e as filhas da Memória,
Deixando os grandes templos esquecidos,
Não se lembram de altares nem de glória.

Andam os elementos confundidos:
Ah, Jónia, dia de vitória
Sempre o mais triste foi para os vencidos!

Alvarenga Peixoto

Inácio José de Alvarenga Peixoto, natural do Rio de Janeiro (Brasil), onde nasceu em 1743, licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, exercendo em Sintra (Portugal) o cargo de Juiz de Fora. Regressado ao Brasil, foi senador pela cidade de São João del-Rei, Minas Gerais e ouvidor de Rio das Mortes.

Foi poeta de grande valor embora com poucas obras editadas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Júlio Saraiva


De Silêncio em Silêncio
(No época da ditadura no Brasil)

de silêncio em silêncio
os barulhos passavam
quebrando as ruas
diante de nossas caras
amarrotadas de segunda-feira

de silêncio em silêncio
de memória em memória
os barulhos acordavam
os sonhos que sonhávamos

de silêncio em silêncio
os barulhos emprestavam
o estampido das armas
o estrondo das bombas
o estalo de ossos partidos

de silêncio em silêncio
olhos estranhos assistiam
a passagem dos nossos enterros

assim de silêncio em silêncio
eles cruzavam os nossos braços
um pouco só de sangue
ficava em nossa lembrança

de silêncio em silêncio

Júlio Saraiva - S. Paulo (Brasil) - especial para "POESIA"



segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sérgio Milliet


Aniversário


Faço hoje 25 anos
Metade da vida já passou
Doenças viagens amores
Passou
Escreverei o fim do romance?
A vida abre-me asas duvidosas
Ora sim ora não pêndulamente
E nem sei por que sim
E porque não
Indiferença
Fatalismo
Fui rajá numa noite de orgia
Ergui um templo a Buda
No vale de Caxemira
Onde lagos de lótus têm risos para o céu
Mas fui Cristo também
Numa cidade da Suíça
De braços abertos sobre a neve
Olhando cair os pássaros alvos
Da abóbada de chumbo
Mas era um Cristo fazendeiro conferencista literato
Metade da vida já passou
Livros sonetos e versos
Passou
Continuarei?
O tédio queima como álcool
Acrisolando a alma
Escancarando os olhos da imaginação
Porém nenhuma ilusão mais
Morreram aos vinte
E passaram-se cinco
Rápidos perversos furacão
Cinematógrafo acelerado
Fita cómico-grotesto-trágica
Uma vida de cão Charles-Chaplin
Tem galinha
Cartolinha
E essa esperança que é mais forte do que a vida…
Continuarei

Sérgio Milliet

Sérgio Milliet da Costa e Silva, nasceu em São Paulo (Brasil), a 20 de Setembro de 1898 e faleceu na sua cidade natal em 9 de Novembro de 1966.
Foi professor do ensino superior, jornalista e poeta.
Entre muitas outras obras, escreveu Poemas Análogos, Poemas, Poema do Trigésimo Dia, Cartas à Dançarina e 40 anos de Poesia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ribeiro Couto


Noite de Tormenta


A mão do vento é má e me procura;
fria, contra o meu rosto a não quisera,
mão que saiu de alguma sepultura
da mais perdida, mais remota era.

Nenhuma porta mais está segura:
o vento trouxe alguém que ali me espera,
alguém que com cicios de conjura
ri escarninho do pavor que gera.

Em noites de tormenta como esta,
penso na mão que outrora me acudia,
meigamente pousada em minha testa.

Cessou a chuva. O vento já não ouço.
A casa é como um berço ... Principia
seu brando movimento de balouço ...

Ribeiro Couto

Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto, de seu nome completo, era natural de Santos (Brasil), onde nasceu em 12 de Março de 1898, foi bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, poeta, romancista, jornalista e diplomata, falecendo em Paris a 30 de Maio de 1963.

É autor, entre muitas outras obras, de "O Jardim das Confidências", "Um Homem na Multidão", "Cancioneiro de D. Afonso" e "Dia Longo".

Embarque em Sobressalto


Entreguei hoje na editora "Folheto", em Leiria, o original do meu novo livro "Embarque em Sobressalto", que conta com capa e ilustrações de Mário Silva e prefácio de António Augusto Menano, e cuja apresentação, em princípio, irá ocorrer a 15 de Maio.
Para já, todos os visitantes deste blogue estão convidados, mas, oportunamente, os convites serão formalizados.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

José Ruy Pimentel de Castro

A pessoa fútil

A pessoa fútil é aquela
que deixa seus olhos
seduzirem o coração.
Através deles, cega a alma,
a própria alma,
Na mais simples
e óbvia das contradições.

A pessoa fútil é aquela
que, agora cega pelos próprios olhos,
tateia em busca de algo firme
e, então, valoriza o que pode apalpar
e despreza o que não pode.

A pessoa fútil é aquela
que se encontra adornada,
linda por fora,
mas vazia por dentro.
Seus olhos não brilham
a tenra luz
dos simples de coração.

A pessoa fútil é aquela
que tem, agora,
um cabelinho na palma da mão.
Então pergunto: “Por curiosidade,
Não vai olhar não?”

José Ruy Pimentel de Castro

Professor brasileiro, de 24 anos, músico, cantor, compositor e poeta. É bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Vila Velha (UVV), estudante de Letras – Inglês pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e membro da ONG Transparência Capixaba. (Em II Antologia de Poetas Lusófonos
).

domingo, 4 de abril de 2010

Porque hoje é Domingo de Páscoa

Para todos os visitantes
um Santo Domingo de Páscoa!!!

sábado, 3 de abril de 2010

Ilton Gurgel

Ressurreição de Jesus



SÁBADO DE ALELUIA

I
Sábado de Aleluia
É um dia abençoado
A Igreja comemora
Este dia tão louvado
Da vitória de Jesus
Quando foi ressuscitado.
II
Cristo foi crucificado
Mas aí ressuscitou
Sábado de Aleluia
Quando então foi que marcou
A sua grande vitória
Ele assim se consagrou.
III
Um bom motivo marcou
Para se comemorar
Este dia importante
Nós podemos festejar
E Nosso Senhor Jesus
Que veio ressuscitar.
IV
Dia p’ra se alegrar
Com essa ressurreição
Sábado de liberdade
E da comemoração
E cremos que em Jesus
Teremos a salvação.
V
Dia de animação
Neste sábado é festa
Aleluia é alegria
No cristão se manifesta
O fim da abstinência
Alegria é o que resta.
VI
É um sábado de festa
Mas não cometer pecado
Tudo dentro dos conformes
Também como é mandado
Alegrar porque Jesus
É nosso ressuscitado.

VII
Um dia comemorado
Com certeza pelo mundo
No sentido da Igreja
Um sentimento profundo
Dia de agradecer
Porque o crente vai fundo.
VIII
Festejado pelo mundo
Com sua variação
Cada canto comemora
Com a sua tradição
A festa se modifica
Conforme a religião.
IX
E também na região
Onde tudo ocorreu
Há dois mil anos atrás
Local que Jesus morreu
E depois ressuscitou
A alguns apareceu.
X
O facto que ocorreu
Todo ano é lembrado
Sábado de Aleluia
Dia diferenciado
Pois um facto importante
Nele é comemorado.
XI
Relembrando o passado
E agora no presente
E as novas gerações
Festejam futuramente
Esse acontecimento
Que é muito comovente.
XII
Termino o meu repente
Deste verso especial
Eu falei sobre um dia
Para todos sem igual
Sábado de Aleluia
No seu diferencial.


Ilton Gurgel, poeta repentista (como se diz no Brasil - aquele que improvisa)

sexta-feira, 2 de abril de 2010


A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS.

Fita o Mestre, da cruz, a multidão fremente,
A negra multidão de seres que ainda ama.
Sobre tudo se estende o raio dessa chama,
Que lhe mana da luz do olhar clarividente.

Gritos e altercações! Jesus, amargamente,
Contempla a vastidão celeste que o reclama;
Sob os gládios da dor aspérrima, derrama
As lágrimas de fel do pranto mais ardente.

Soluça no silêncio. Alma doce e submissa,
E em vez de suplicar a Deus para a injustiça
O fogo destruidor em tormentos que arrasem,

Lança os marcos da luz na noite primitiva,
E clama aos Céus em prece compassiva:
“— Perdoai-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem!...”


Olavo Bilac

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Júlio Saraiva

Oração em forma de soneto
à nossa senhora dos insones


ó nossa senhora mãe dos insones
velai pelas minhas noites em claro
dai-me o sagrado som dos rolling stones
que nessas horas me serve de amparo

livrai-me das garras do psiquiatra
o diazepan me põe transtornado
minha cabeça vai até sumatra
eu por aqui permaneço acordado

de certas leituras poupai-me também
são bem piores que qualquer remédio
porque na verdade o sono até vem

mas de tão agitado não me faz bem
é sono ruim é sono de tédio
afastai-o de mim nesta hora – amém!

Júlio Saraiva - S. Paulo - Brasil
 
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