sábado, 13 de novembro de 2010

FERNANDO PESSOA


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa (Fernando António Nogueira de Seabra Pessoa, de seu nome completo)

Nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1888, ali viria a falecer em 30 de Novembro de 1935. Como escreveu Vasco Miranda, Pessoa foi um “poeta que se multiplicou, sem se cindir. Pessoa dá-nos, na sua poesia ortónima, estados de alma onde ele se recolhe a uma intimidade feita mistério de si mesma, intimidade em que se condensa todo o enigma do próprio poeta voltejando em torno do seu eu complexo, da própria essência.”
Fernando Pessoa, uma das maiores referências da poesia portuguesa, escreveu diversas obras utilizando, além do seu nome verdadeiro, os heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares.
São da sua autoria, entre outros, POESIAS COLIGIDAS, MENSAGEM, POEMAS PARA LILI, CHUVA OBLÍQUA, PASSOS DA CRUZ, e CANÇÕES DE BEBER.

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