quarta-feira, 3 de novembro de 2010

RAPOSO DE OLIVEIRA




Leio o jornal.
A noite desce.
E enquanto desce,
Dentro em mim cresce
A sombra da tristeza do meu mal.
Deste mal que, em resumo,
Filho de nervos despóticos,
É cinza vã, é fumo,
A envolver, calada,
Obstinada,
Inexoravelmente,
O espírito doente
De todos os nevróticos…

Nestes dias nevoentos
Em que nos toma um lúgubre torpor,
Embarcam nossos tristes pensamentos
Na Galera da Dor…

E a Fantasia, viúva
Do bom Sol de risonhos vaticínios,
Ouvindo o requiem da chuva,
Põe-se a inventar morticínios…

Leio? Suponho ler…
Um título, uma frase desgarrada…
É que os olhos preferem percorrer
A página da tarde, enevoada,
Lendo as suas legendas - sem a ver…

É quase noite, agora.
Vinda de fora,
A névoa, que tudo cobre,
Tira-me as letras do alcance.
Mas, de repente, num relance,
Fixo este nome – António Nobre.

Raposo de Oliveira, na sua obra O POETA DO SÓ, publicada em 1928, dedicada ao poeta António Pereira Nobre, que nasceu no Porto (Portugal), em 16 de Agosto de 1867, cidade onde viria a falecer em 18 de Março de 1900, vítima de tuberculose.

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