domingo, 14 de agosto de 2011

António Amargo




HÁ FESTA NA MOURARIA


Há festa na Mouraria,
é dia da procissão
da senhora da saúde.
Até a Rosa Maria
da rua do Capelão
parece que tem virtude.

Naquele bairro fadista
calaram-se as guitarradas:
não se canta nesse dia,
velha tradição bairrista,
vibram no ar badaladas,
há festa na Mouraria.

Colchas ricas nas janelas,
pétalas soltas no chão.
Almas crentes, povo rude
anda a fé pelas vielas:
é dia da procissão
da senhora da saúde.

Após um curto rumor
profundo siléncio pesa:
por sobre o largo da guia
passa a Virgem no andor.
Tudo se ajoelha e reza,
até a Rosa Maria.

Como que petrificada,
em fervorosa oração,
é tal a sua atitude,
que a rosa já desfolhada
da rua do Capelão
parece que tem virtude.


António Amargo

António Amargo,peudónimo de António Correia Pinto de Almeida, era natural da Figueira da Foz, onde nasceu em 1895. Ligado à comunicação social, foi diretor e redator do jornal Gazeta da Figueira, colaborando ainda noutros jornais, incluindo a Imprensa da Manhã, de Lisboa, de que foi redator, cidade onde residiu durante vários anos, tendo ainda exercido a profissão em A Capital.
Na sua terra natal colaborou em diversas periódicos, entre os quais O Figueirense e o Palhinhas.
Autor dramático, escreveu várias peças, como O Castigo, Os Conspiradores e o Degredado.
Poeta de grande valia, dele ficaram célebres os Sonetos Minero-Metálicos, sendo ainda autor de, entre outros trabalhos, Feira de Fantoches e Vozes do Silêncio.
O poema que hoje aqui publico, foi musicado por Alfredo Marceneiro, que o interpretou, bem como, entre outros artistas, Amália Rodrigues.

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